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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Os resquícios da miséria moral da política e da mídia brasileiras

Certa feita, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o compositor brasileiro mundialmente conhecido como Tom Jobim, declarou “o Brasil não é para principiantes”. Definitivamente não é mesmo. Na política, por exemplo, se confunde quem não considera a forte influência de uma cultura conspiratória, golpista e patrimonialista que serviu de fio condutor para os arranjos do poder central ao longo de toda a história de Terra Brasilis. Tal cultura permanece no imaginário da política brasileira. Existe literatura vasta que versa sobre o tema, de maneira que não cabe aqui discorrer. Esse lacônico introito, no entanto, intenta advertir sobre a trivialidade, e não a excepcionalidade, das manipulações conspiratórias, genuínas ou forjadas, por grupos políticos que inventam as batalhas a fim de alcançar e manter o poder no nosso país. Diante disso, parece-me prudente ainda considerar que essas “maquinações” se descortinam ao público em momentos de forte disputa de poder e se prestam a exercer controle e influência sobre os próprios pares ou em relação aos oponentes. Reparem que essas hipóteses especulativas fornecem um profícuo serviço aos que desejam plantar a dúvida e a discórdia com a finalidade de obterem proveito político delas. Ora, dividir para melhor dominar é estratégia antiga. A metodologia é relativamente simples: cria-se uma narrativa com forte apelo sentimental ou moral, aponta-se um suposto inimigo, e busca-se uma ordenação midiática batizada por mim de “luz e sombra” (tem um texto meu aqui no facebook sobre esse tema). Esse método consiste em lançar os holofotes naquilo que se deseja evidenciar de um determinado fato ou desafeto e colocar à sombra o lado que não endossa a nossa visão sobre ele. De qualquer forma, intenta expor e afirmar apenas o lado da conjuntura que melhor aprouver ao interessado. É um jogo de luzes e sombras, todavia, perigoso. Basta um flash mal direcionado e a sombra projeta o iluminador. Na história recente da política mundial, grandes figuras que adotaram essa metodologia como escudo moral e propaganda das suas pautas ideológicas hoje amargam o descredito social e a perda de capital político.
Pois muito bem, tentarei exemplificar o que acima afirmei tomando como objeto de análise a acusação de suposta traição ideológica cometida pelo vice-presidente Hamilton Mourão. As primeiras críticas foram veiculadas na internet pelo filho do presidente da República, Carlos Bolsonaro, mas logo se proliferaram por todos os meios de comunicação da grande mídia. À noite, a hashtag sobre Mourão já figurava como “the most popular” no Twitter. Recebeu destaque também nos principais jornais televisivos do país.
O fato: as declarações públicas do general Hamilton Mourão, vice-presidente, teoricamente dissonantes às posições ideológicas do presidente Bolsonaro, estariam incomodando uma ala do governo ligada ao setor conservador. Entrementes, as principais indicações para cargos do primeiro escalão do governo sugeridas pelo filósofo OC, cuja obra teórica tem inspirado a jovem geração de brasileiros conservadores, não foram bem-sucedidas. É de conhecimento de todos que o general Mourão não nutre simpatia pelo livre-pensador e amigo pessoal do presidente, OC. Desde então, criou-se uma animosidade pessoal entre o filósofo e o vice-presidente cujas manifestações puderam ser acompanhadas pelas redes sociais. Os generais Santos Cruz e Etchegoyen também se posicionaram publicamente refratários à influência do professor OC no atual governo. Infelizmente, de ambos os lados, o nível das acusações está abaixo do razoável tanto para um intelectual de alto nível como o é OC, quanto de generais quatro estrelas. Este é um ponto que desde já eu gostaria de deixar registrado, o baixo nível das ofensas públicas entre as partes, que em absoluto não condiz com a expectativa de todos em promover a alta cultura no Brasil.
As acusações: 1) os filhos do presidente Bolsonaro, Carlos e Eduardo, são jovens políticos alinhados ao movimento conservador – proposta política vencedora nas últimas eleições. Ambos, porque transitam no meio político, estão comprometidos não só com a segurança pessoal da família, quanto com a imagem política do pai presidente: isso é normal. Ocorre que ambos são influenciados pelo pensamento do professor OC, e como acontece com todos os intelectuais de destaque vivos, e alguns mortos também, eles possuem uma legião de seguidores obstinados e fiéis capazes de defendê-los até mesmo de aparições. Ao que tudo indica, os militares, em especial o general Mourão, têm se colocado contra as indicações técnicas do mestre Olavo, o que tem provocado irritação nos conservadores; 2) Nesse cenário claro de disputa de poder, associam-se algumas declarações do vice-presidente à mídia que têm causado desconforto ao grupo ideologicamente inflexível que habita o Planalto, de modo que vou concentrar a análise nessa alegação.
Segundo as postagens que Carlos Bolsonaro vem veiculando nas suas redes sociais, o governo Bolsonaro estaria prestes a sofrer um golpe por parte de integrantes do alto comando do governo. Sem citar diretamente o nome do general Mourão, ontem ele indicou um vídeo do jornalista e aluno do prof. OC, cujo título é “General Mourão, o traidor? Segundo Carlos, o vídeo continha as provas de uma suposta tentativa de traição. Bem, eu assisti e, como publiquei ontem, o considerei pueril e tendencioso A matéria não faz jus a um jornalista sério e estudioso da obra do prof. Olavo.
A seguir, me valendo do método de análise acima citado, vou contrapor os argumentos que amparam a acusação imposta ao vice-presidente em relação à orientação das políticas do presidente Bolsonaro:
1) O primeiro ponto que a meu ver merece destaque é a introdução do vídeo. O jornalista inicia com lembranças da sua infância e o modo como costumava “remendar” as orientações dos seus pais, e por essa atitude era constantemente repreendido. E assim, disse ele, “aprendeu” a não desdizer, acrescentar ou tirar a fala de uma autoridade ou de um superior. Ora, foi exatamente isso que ele fez durante os 14 minutos da sua exposição – desrespeitou uma autoridade, a menos que ele não considere um general quatro estrelas ou um vice-presidente uma autoridade. Não aprendeu nada – e para um aspirante a conservador deveria saber que respeitar a tradição é condição sine qua non para entrar no Clube. O general Mourão dedicou 48 anos da sua vida para servir ao Brasil, não havendo nenhuma mácula na sua trajetória pessoal e militar capaz de justificar as agressões de baixo calão a ele dirigidas, como chama-lo de “coqueluche da moda”; “gostosão”; “ilustre desconhecido”; “poste”: “nulidade pública” entre outros despautérios;
2) Após construir esse monumento linguístico ao contrassenso, ele aponta vários “indícios” que comprovariam a intenção secreta de o vice-presidente trair o seu comandante – vejam só, por qual cabeça de vento passaria a ideia de um general falsear o próprio comandante do Exército – é isso o que Bolsonaro é – ele é o Comandante maior do Exército brasileiro. O jornalista caiu na narrativa falaciosa da mídia vermelha intrigueira que repete como papagaio de pirata que general não presta continência a capitão. Ora, os generais não prestavam continência a um semianalfabeto que sequer serviu no Exército? Não sabe a mídia que o presidente da República é o chefe das Forças Armadas? A mídia sabe, sim – mas ela faz o jogo da luz e da sombra e consegue enganar aos incautos. Diante disso, o jornalista se ressente porque a mídia oficial não critica o vice, mas “tende a derreter a credibilidade política do presidente” – e completa: “algo está errado!”. Nada está errado a meu ver – Bolsonaro desde sempre se posicionou contra a mídia oficial e deixou isso bem claro. Por outro lado, a mídia hoje é refém do financiamento dos progressistas, sem recursos do Estado, como no tempo do PT, é compreensível que os grandes meios de comunicação estejam a chantagear o governo através das fake News.
Já foi dito à época da transição de governo que cada membro do alto escalão foi designado para uma determinada missão. Gostando ou não, nós temos um governo de militares e os militares trabalham dentro da lógica da “missão dada é missão cumprida”. Reiteradamente o vice-presidente declarou que a sua missão é a de pacificar os discursos antagônicos em meio a uma sociedade dividida ideologicamente. Concordando ou não, militares não fomentam a guerra, eles lutam pela paz – quem fomenta a guerra são os criminosos travestidos de jornalistas, políticos, humanistas, filantropos e até, pasmem, religiosos. Para cumprir tão árdua função, o vice adotou um discurso moderado, para contrabalançar com o do presidente. Isso desagradou parte da ala conservadora e concomitantemente despertou na esquerda e na grande mídia a ideia de aproveitar-se do comportamento mais acolhedor adotado por Mourão e tentar confundir a opinião pública, bem como estimular a ambição de partidos políticos nanicos como o PRTB do ilustre desconhecido Levy Fidelix, partido ao qual o vice é filiado.
Quem não lembra das declarações contundentes do general Mourão desde 2015? Em 2017 ele chegou a sugerir intervenção militar no Brasil caso o judiciário não conseguisse resolver “o problema político”, lembram? Chamou o governo Temer de “balcão de negócios”, o que lhe custou a reserva.
Mas um fato irrefutável que prova a lealdade do general Mourão foi uma postagem de Eduardo Bolsonaro na sua própria página do facebook, em 30 de outubro de 2015. Ele comentou uma matéria do Globo “General do Exército que criticou Dilma é exonerado” – Eduardo escreveu “Dilma exonera general Mourão por conta de sua opinião. General Mourão, opinião não é crime. Estamos juntos por um Brasil melhor. O Senhor honra as Forças Armadas e os brasileiros. Faço minhas as palavras do Capitão e Deputado Jair Bolsonaro. Selva!”.
Quatro anos depois de todo o companheirismo e luta, em que nós brasileiros estivemos juntos com vocês, esse papelão, meninos Bolsonaros. Quem são os traidores? Na época “opinião não era crime” – agora é?
Penso que poderia terminar o texto por aqui, mas vou me permitir tecer mais algumas considerações breves, nem de longe suficientes para esclarecer esse imbróglio que só alimentou à mídia golpista e à esquerda criminosa.
3) O jornalista Bernardo K ainda fez críticas infundadas sobre a participação do vice-presidente na 5ª Brazil Conference at Harvard & MIT, realizada pela comunidade brasileira de estudantes em Boston. O objetivo do evento é não perder os laços com o Brasil e promover o encontro com líderes e representantes das diversidades do país. Pois o honorável jornalista criticou o aceite do vice-presidente em prestigiar estudantes brasileiros nos Estados Unidos porque certamente não concorda com a posição ideológica deles. Mas não são os conservadores que criticam a esquerda pela posição refratária ao diálogo? Ora, ora, fez o general Mourão muito bem em ter prestigiado os estudantes brasileiros no exterior e ter-lhes dado um bom exemplo. Além disso, ele fez um discurso primoroso salientando o plano de governo: as propostas liberais da economia do ministro Paulo Guedes, o respeito à democracia e à Constituição, os investimentos em ciência e tecnologia, a simetria de intenções entre o presidente Bolsonaro e ele e ainda brincou – “temos algumas discordâncias no que se refere aos quadros técnicos – mas eu acato as decisões do presidente”. Todavia, o jornalista não citou uma só palavra do discurso do general Mourão, antes enfatizou o convite, escrito sabe-se lá por quem, que descreveu o vice-presidente como “um general quatro estrelas que se tornou um dos favoritos dos jornalistas brasileiros que frequentemente criticam o governo brasileiro” e outras baboseiras progressistas com o intuito claro de chamar o público socialista. Agora respondam – o que o general Mourão tem a ver com o que está escrito no convite? Provavelmente nem foi o que ele recebeu. Isso não é jornalismo.
4) Bernardo pergunta então se o problema é o professor Olavo, um eleitor e influenciador das eleições, ou se são as declarações do vice-presidente na imprensa? E eu pergunto, desculpem, no mesmo linguajar costumeiro usado nas postagens das redes sociais entre o professor e seus alunos – o que o c* tem a ver com as calças? NADA! O professor OC está exausto de repetir que não tem pretensões políticas. Ele já tem reconhecimento mundial pela sua obra e trajetória de vida. O professor OC é sem alguma dúvida o mais importante e bem preparado intelectual brasileiro – é um orgulho e referência para nós acadêmicos conservadores. Seus livros vendem como água e sua obra será uma referência filosófica e política nos próximos 100 anos, no Brasil. Sim, ele mudou os rumos da política e fraturou irreversivelmente o pensamento único socialista no Brasil. Mas curiosamente os conservadores agora não querem que o vice presidente do Brasil exponha as suas opiniões que têm, prestem atenção, o objetivo precípuo de baixar o nível de confronto entre os brasileiros. Nesse cenário atual, os Bolsonaros, capitaneados pelo OC têm uma missão, no meu entendimento, de desbravar caminhos que coloquem o pensamento conservador dentro do sistema educativo brasileiro, em especial, dentro das universidades. O presidente já anunciou algumas medidas muito importantes que vão enfraquecer o domínio da esquerda na academia. Ele cortou verbas, a tendência é que o presidente escolha os reitores das universidades públicas, capturou parte das agências de fomento, como CAPES e CNPq, e disse que quer criar a carteira nacional de estudante, esvaziando e retirando recursos e poder da UNE. Vão desperdiçar essa oportunidade? Outra coisa – os Bolsonaros precisam assumir o protagonismo dos movimentos conservadores de base. Sem capilarizar os princípios conservadores na base da sociedade, as eleições de 2022 não serão fáceis – e sobre isso eu tenho boas novas: as populações vulneráveis são reféns da assistência social que por sua vez é socialista de carteirinha. Se entrarem no site do Conselho Federal de Serviço Social certamente o confundirão com uma página do PT ou PSOL. Porém, a boa notícia fica por conta dos inúmeros movimentos de assistentes sociais conscientizados da necessidade de mudanças na orientação ideológica da profissão – algo inimaginável há dois anos. A hora é agora, senhores. O amadorismo vai nos custar capital político, atentem para isso.
5) Além dos exemplos que citei acima, o jornalista desfia mais algumas declarações do general Mourão como a da sua opinião sobre o aborto – ele advoga que o aborto seja uma opção da mulher. Amigo, isso legalmente já é assim no Brasil, desde 2013. Através da Lei do Minuto Seguinte, todas a mulheres que se autodeclararem vítimas de violência sexual têm direito a atendimento emergencial, integral e gratuito em hospitais do SUS, sem necessidade de boletim de ocorrência policial. Isso porque no nosso país “qualquer forma de atividade sexual não consentida é considerada violência sexual” – e basta a palavra da mulher. O profissional que realiza a interrupção de uma gravidez resultante de estupro é isento de punição. Será que o jornalista entendeu como a proibição do aborto foi burlada no Brasil? Pois é, o vice não pode ignorar as leis brasileiras. Se isso está certo ou errado é outra discussão, não cabe aqui fazê-la. Seguindo nessa linha eu teria holofotes suficientemente fortes para iluminar cada sombra contida nas demais acusações infundadas contra o nosso vice-presidente. Se houver necessidade, eu o farei. E se ainda assim me mostrarem a foto do general Mourão com o socialista fabiano Fernando Henrique Cardoso, em um evento em Boston, eu mostrarei a foto do ministro Sérgio Moro ao lado de Aécio Neves e outra ao lado da globalista Ilona Szabó, Que tal? E a declaração sobre a permanência de Jean Wyllys no Brasil? Ironia. Deveria ter ficado e pago pelos seus prováveis erros.
Paro por aqui imensamente entristecida com essa celeuma que de forma alguma se justifica senão para dar munição para a esquerda e a grande mídia, ambas mal-intencionadas. Infelizmente, a honra de um homem de bem foi injustamente atingida. Um adendo apenas – no dia 30 de janeiro passado, a jornalista comunista, Eliane Brum, escreveu no jornal El País “em caso de naufrágio, qualquer tábua de pinho vira navio”. Pois é, a esquerda elegeu o general Mourão como a imaginária tábua de pinho. E os aspirantes a conservadores caíram como patos.
Tenho certeza que se esse episódio lamentável, fruto do desconhecimento e da imaturidade de alguns dos nossos, serviu para a perda de considerável capital político dos Bolsonaros, que possa valer de exemplo a não ser repetido. Tenhamos mais respeito uns pelos outros e por todos os brasileiros que não compactuam mais com comportamentos políticos claramente apoiados em intrigas, politicagens, privilégios e assassinatos de reputações.
O General Sérgio Etchegoyen fez uma intuitiva interpretação sobre as futricas que insistem em convulsionar o novo governo: “é mais perigoso do que divertido zombar do Mourão”.
Vamos trabalhar seriamente, senhores! O Brasil tem pressa.

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