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terça-feira, 1 de maio de 2018

A Exposição Controversa do Goethe-Institut


Goethes Erbe für das 21. Jahrhundert – A herança de Goethe para o século XXI

Este texto trata da não desproposital exposição “artística” promovida pelo Goethe-Institut de Porto Alegre. Intitulada de Pixo/Grafite: Realidades Paralelas, contou com a participação do pichador Rafael Pixobomb e do grafiteiro Amaro Abreu, sob curadoria de Laymert Garcia dos Santos. O acesso ao público teve início em 22 de março, sem data de encerramento - na sede do Instituto localizada no requintado bairro Moinhos de Vento, na capital dos gaúchos. A mostra das obras “artísticas”, expostas no espaço interno do Instituto há mais de um mês, não alcançou grande repercussão nas mídias do sul. No entanto, no fim do período da exposição, os cidadãos porto alegrenses tiveram a ingrata surpresa de, ao transitarem numa das ruas mais movimentadas de Porto Alegre, se depararem com a cabeça de Jesus Cristo decapitada e servida numa bandeja estampada no muro externo do Goethe-Institut. 


Na medida em que as pessoas foram tomando conhecimento do feito, quer passando na frente do Goethe-Institut ou pela internet, a indignação diante de tamanha afronta ao sagrado cristão produziu inúmeros comentários nas redes sociais, em especial na página do facebook da Instituição. É compreensível que os comentários tenham sido contundentes, porém nada próximo do que maliciosamente quis a administração aparentar através de um vitimismo pueril, mas absolutamente hipócrita. Transcrevo um trecho do comunicado veiculado na página do Instituto, dia 27 de abril:

“O Goethe-Institut Porto Alegre tem recebido nos últimos dias mensagens de ódio referentes ao projeto “Pixo/Grafite – realidades paralelas”, projeto realizado para discutir modalidades de street art. Em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos religiosos. Respeitamos todas as crenças, manifestações e liberdade de expressão. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90 países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta a discussão, participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão. Continuaremos com nossos esforços de incentivo à discussão e ao intercâmbio entre culturas, visões artísticas e diferentes formas do pensar”. (...)

O sociólogo alemão Max Weber muito bem explica que toda ação social se fundamenta conforme a expectativa do agente. Dito de outra forma, quando alguém toma uma atitude, toma em razão de alguma expectativa, o acaso inexiste tratando-se de ações sociais. Valho-me da premissa weberiana e questiono: qual ou quais razões teria a administração do Goethe-Institut em afrontar tão intoleravelmente a sociedade cristã de Porto Alegre? Sabidamente, é grande a comunidade luterana germânica no Sul do Brasil. Para além, os grupos cristãos católicos, evangélicos e espíritas não são merecedores de respeito por parte dessa Instituição? Representar o Cristo decapitado – sabe-se que a prática da decapitação é lei do Islã para quem não reconhece Maomé como único Deus – é respeitar todas as religiões? Ou o Goethe Institut “tirou” os gaúchos para idiotas?


Para além de ser um comunicado fútil e desrespeitoso, também é ardiloso. Segundo a Instituição “em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos religiosos, respeitamos todas as crenças”. Mentira, não respeitam. Quem respeita crenças religiosas não permite de forma deliberada o vilipêndio dissimulado de “arte” produzida por um pichador reconhecidamente admirador, para dizer o mínimo, do satanismo. Há menos de um ano a comunidade porto-alegrense já havia se manifestado contra a exposição “Queermuseu", por tratar-se de um taque frontal aos símbolos da fé cristã, cujo desfecho foi o encerramento da mostra. O Goethe-Intitut poderia ter sido bem mais criativo e menos explícito na sua real intenção de agredir ao Deus dos cristãos. Por que não as cabeças de Maomé ou Iemanjá decapitadas numa bandeja? Ou a cabeça de Angela Merkel, que sem pudor algum tem transformado a Alemanha num hospício e a vida dos alemães num inferno? com a “política” de fronteiras abertas. Mais criativo ainda seria a cabeça cortada do diretor do Goethe-Institut- Es wäre wirklich ein Kunstwerk sein. Ou ainda – por que não ofereceu aos “artistas” o lado interno do muro para que realizassem livremente sua “despretensiosa” obra?

O comunicado do Goethe-Institut é uma lorota para gringo ler. O Centro Cultural, ao organizar a exposição e convidar deliberadamente tais participantes, sabia muito bem a quem atingiria e a quem agradaria. Vejamos quem são os protagonistas da “Exposição” Pixo/Grafite – Realidades Paralelas, no Goethe-Institut de Porto Alegre.

Rafael Augustaitz, ou Pixobomb, (ninguém sabe ao certo o nome verdadeiro dele) é considerado o mentor da série de invasões de 2008 na Faculdade de Belas Artes, na Galeria Choque Cultural e na Bienal de São Paulo. As pichações renderam ao “artista” boletins policiais e fama nacional. É autor do “poema terrorista” quando ainda estudava no Centro Universitário de Belas Artes, em São Paulo. O pesquisador Gustavo Coelho estudou a produção de Augustaitiz e, segundo ele, as pichações são produções juvenis e indisciplinadas que não atentam sobre a diferença entre estética e crime.  Segundo o estudioso - "A Semana de Arte Moderna foi polêmica, mas uma polêmica nada suja, uma polêmica bem civilizada e higienizada. A polêmica estava nas obras e nos artistas convidados. Nada foi invadido, tudo o que aconteceu estava basicamente no programa, eram polêmicas aguardadas, planejadas. Em suma, mesmo sendo polêmicas, estas estavam amparadas pelo certame da Arte com “a” maiúsculo”. (vivaapixacao.blogspot.com.br)

O “artista” é autor de obras como – O Cristo Redentor de cabeça para baixo e Manto Duplicado de Nossa Senhora com um Pentagrama invertido no meio (o pentagrama invertido é um símbolo de seitas satânicas e da magia negra).
Entrevistado pelo site <becidecolor.com> o pichador assim se definiu “Pinto como Rafael e picho como PiXobomb, um Grego Augustaitiz, não só em Grego, Opus 666, O Anticristo. As demais respostas às perguntas do site são tão ou mais chocantes e esquizofrênicas quanto foi a sua autodefinição. O site pergunta se ele tem noção das polêmicas que produz  e se tem arrependimento de algo – Pixobomb respondeu – “Eu sou Lúcifer”.

Amaro Abreu – Segundo a Revista O Viés, o grafiteiro tem 26 anos e cursa Artes Visuais na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Porto Alegre. Sua arte, exercida há 10 anos, apresenta críticas sociais misturando cores, seres inanimados e extra- terrestres. Segundo o grafiteiro, ele desenha um universo paralelo  - “percebi também que estava passando os valores que eu achava que estavam se perdendo com a evolução do ser humano. Os valores relacionados com a convivência harmônica com a natureza e os outros seres que vivem no mesmo habitat. Sempre tento acrescentar situações novas em cada pintura, relata o artista, criando um planeta distante, com vida emocional e biológica e cheia de possibilidades”. Há quatro anos realiza oficinas com crianças porto-alegrenses – para ele, os desenhos despertam interesses nos pequenos, o que pode separá-los futuramente das drogas e da violência”. 
Laymert Garcia dos Santos -  o curador da exposição no Goethe-Institut é professor titular do departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, é conselheiro do CNPq, a maior agência pública de fomento de pesquisas do Brasil e Diretor da Fundação Bienal de São Paulo, é também assessor do Ministério da Cultura.  No seu currículo lattes (currículo oficial obrigatório para pesquisadores brasileiros) consta que é bacharel em comunicação social (UFRJ), é mestre em Sociologie des Sociétés Industrielles - École des Hautes Études en Sciences Sociales e possui doutorado em Sciences de l'Information - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot. Realizou três pós-doutoramentos com financiamento público de agências brasileiras (um na Inglaterra e dois na França). Atualmente é coordenador do Laboratório de Cultura e Tecnologia em Rede, Instituto Século 21, em São Paulo. É autor do artigo científico “Sobre o futuro do humano. Nada” e do livro Alienação e Capitalismo.

O professor Laymert  possui um site < www.laymert.com.br), onde se pode encontrar inúmeros artigos de sua autoria sobre questões relacionadas à política, à arte e ao ensino no Brasil. Recomendo a leitura do artigo sob título “O fim da Universidade” (2000) – no qual o eminente professor escreveu “o desmantelamento das universidades públicas parece inexorável”. Outro texto que recomendo é o “Não acho que o fascismo vai vir, ele já está aqui” (2016), no qual ele ataca às autoridades judiciais brasileiras e se mostra um intolerante audaz ao escrever “a gente já passou da fase de tentar negociar. Eles não negociam nada, não tem o que negociar (se refere ao impeachment de Dilma Rousseff e aos que o apoiavam)”.

Para finalizar, vamos falar sobre Johann Wolfgang von Goethe, quem empresta o nome ao Instituto Cultural alemão mais conhecido fora da Alemanha – quem foi ele? Sem dúvida o maior expoente da literatura alemã. Viveu entre 1749 e 1832. Vale visitar as duas residências, hoje museus, onde Goethe escreveu grande parte das suas obras – uma em Frankfurt am main, onde nasceu e outra em Weimar, onde morreu. Quem tem uma imagem de Goethe como homem ensimesmado, reflexivo e recolhido aos aposentos desalumiados do século XVIII donde parturejava suas obras – enganou-se. Nada disso. Herdeiro de uma família abastada, o típico burguês jamais necessitou de recursos advindos do seu trabalho para viver. Fato esse que explica em parte a fase rebelde e boêmia da sua juventude. Formado em Direito, nunca se interessou em seguir carreira jurídica como a do seu pai. Gostava da literatura, das artes e de frequentar a nobreza. Chegou a viver na Itália por um curto período de tempo quando produziu algumas obras importantes como as Elegias Romanas. Autor de Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), escrito em apenas quatro semanas e considerada uma obra prima da literatura mundial. Foi inspirada no amor “proibido” que Goethe nutria pela noiva de um amigo. Esse seu primeiro romance o levou a patamares de celebridade no mundo europeu da literatura com apenas 23 anos de idade. Porém, estranhamente foi logo proibido em vários países europeus porque provocou uma onda (welle) de suicídios em todo o continente europeu – jovens eram encontrados mortos, vestidos tal como o jovem Werther e com exemplares do livro nos bolsos –  esse episódio ficou conhecido como “as vítimas de Werther”. A obra foi acusada de incitação ao suicídio e ameaça aos bons costumes da sociedade.

Bem mais tarde, lançou um livro de poesias intrigante - o Divã oriental-ocidental (West-östlicher Divan, 1819). Uma obra com grande apelo ao imaginário muçulmano.  Apesar de uma educação clássica e burguesa ocidental, e de fato nunca ter chegado próximo de um país oriental, nesta obra fez uma verdadeira exaltação ao islamismo. Para Goethe, o povo árabe é honrado, respeitador das tradições, é ávido por guerra, vingativo e irascível, porém esses atributos lhe confere um perfeito espírito guerreiro e vencedor. É expressiva a recepção de o Divã nos países orientais. Enquanto há apenas duas traduções da obra fora da Alemanha (francesa e inglesa), por outro lado foi traduzido para o persa, árabe, turco, azerbaijano, japonês, mandarim, entre outras línguas orientais. É uma obra de fato anticristã.

Mas de todas as excentricidades de Goethe, a mais curiosa para mim foi ter encontrado uma referência da sua participação como fundador da Seita Illuminati. No dia 1º de maio de 1776, o professor de direito Adam Weishaupt, da Universidade de Ingolstadt, Baviera, sul da Alemanha, acompanhado por Goethe e mais alguns membros da elite alemã fundaram a sociedade secreta dos Illuminati, cujo objetivo fora o de discutir e promover os dogmas do iluminismo.  Weishaupt esperava que por meio dos frequentes encontros dos “magnânimos intelectuais” seria possível influenciar poderes políticos e econômicos e extinguir a “irracional” crença cristã além de criar uma nova ordem mundial através de um governo global.  Segundo a história oficial, Karl Theodor, duque da Bavária, baixou um decreto em 1785 que extinguiu a sociedade Illuminati. Todavia, alguns creem que a sociedade secreta dos "Iluminados" continua viva até hoje e seu principal objetivo, o de estabelecer um governo global anticristão, estaria em curso adiantado. 
Neste breve alinhavo dos fatos com os atores envolvidos nesta “mostra artística” vislumbra-se uma ténue, mas elementar indicação do conjunto de princípios, concepções e ideias que estão presentes na visão de mundo da Instituição que tem por insígnia a alcunha Goethe. Valores estes que seguramente estão por de trás dos seus idealizadores.  Retomando o conceito de ação social de Max Weber, toda ação praticada socialmente tem uma intenção orientada para outrem e cabe ao cidadão consciente e político encontrar o elo causal entre elas para não se deixar enganar.
https://www.focus.de/wissen/mensch/beweis-gefunden_aid_101612.html
http://www.dieterwunderlich.de/Johann_Wolfgang_Goethe.htm