A arte, em todas as suas expressões, sempre foi objeto de análise sociológica. As obras artísticas descortinam tanto as relações sociais de uma determina época como a visão do autor sobre o objeto representado. A partir desse entendimento, vou discorrer sobre a obra cinematográfica do cineasta austríaco, Michael Haneke, intitulada “Das Weisse Band” (A Fita Branca), vencedora da Palma de Ouro em Cannes, ano de 2009. Haneke concedeu várias entrevistas à época e se dizia convencido de que a cultura protestante conservadora, que dominava a sociedade alemã no início do século XX, foi a responsável pela ascensão do nazismo nos anos 1930.
A história retratada no filme se passa no segundo Reich (segundo império alemão) sob o governo do chanceler Otto Von Bismark. O narrador é um jovem professor há pouco chegado na pequena aldeia protestante de Eichwald. Do futuro, ele passa a narrar em retrospectiva uma série de eventos violentos ocorridos no povoado e que envolviam, direta ou indiretamente, todos os moradores. Os personagens representam a então estratificada sociedade alemã da primeira década do século XX: o médico viúvo, a filha adolescente, o filho pequeno, a governanta e o seu filho bastardo com retardo mental; o rígido pastor e sua família submissa, um jovem professor ingênuo e sonhador, um barão e a baronesa proprietários de um feudo, os policiais, uma jovem babá e os camponeses com suas numerosas proles. Mas são as crianças desse vilarejo as protagonistas da trama. De alguma forma, o roteirista Haneke faz sugerir que essa geração de crianças tem a ver com todas as transgressões que ocorreram no período posterior ao fim da primeira grande guerra.
A história retratada no filme se passa no segundo Reich (segundo império alemão) sob o governo do chanceler Otto Von Bismark. O narrador é um jovem professor há pouco chegado na pequena aldeia protestante de Eichwald. Do futuro, ele passa a narrar em retrospectiva uma série de eventos violentos ocorridos no povoado e que envolviam, direta ou indiretamente, todos os moradores. Os personagens representam a então estratificada sociedade alemã da primeira década do século XX: o médico viúvo, a filha adolescente, o filho pequeno, a governanta e o seu filho bastardo com retardo mental; o rígido pastor e sua família submissa, um jovem professor ingênuo e sonhador, um barão e a baronesa proprietários de um feudo, os policiais, uma jovem babá e os camponeses com suas numerosas proles. Mas são as crianças desse vilarejo as protagonistas da trama. De alguma forma, o roteirista Haneke faz sugerir que essa geração de crianças tem a ver com todas as transgressões que ocorreram no período posterior ao fim da primeira grande guerra.
No roteiro, o diretor Michael Haneke defende a ideia de que a geração de germânicos que viveu no contexto dessa sociedade extremamente opressora e hipócrita, segundo ele, tenha gestado adultos que mais tarde apoiaram a escalada do nazismo na Alemanha.
Particularmente, discordo do argumento do diretor. Na minha concepção, trata-se de mais uma produção cinematográfica com manifesta intenção política e ideológica a favor do progressismo.
A sociedade alemã pós I Guerra educou sim as suas crianças com extremo rigor no que diz respeito às manifestações dos desejos e dos afetos. Preservou o zelo pela reputação moral individual e familiar, exagerou no senso de responsabilidade para com o trabalho e os afazeres domésticos/ coletivos e exaltou a admiração pela pureza representada pela fita branca presa aos cabelos das meninas e amarrada nos braços dos meninos. Todavia, não há algum indício seguro que nos faça pensar ser essa geração de crianças, educada no conservadorismo alemão entre guerras, a responsável pela ascensão do nazismo. Ao contrário, diante do surgimento de uma sociedade inusitada para os padrões sociais e culturais da Alemanha conservadora do fim da segunda década do século XX, esses jovens ficaram à margem dos acontecimentos, meros espectadores sem interferência direta nos acontecimentos.
A Alemanha derrotada e destruída pela primeira guerra mundial (1914-1918) abrigava um povo humilhado pela pobreza e pelas imposições econômicas e políticas dos vencedores. Em meio desse clima derrotista nasceu uma sociedade totalmente avessa ao passado próximo reacionário: a República de Weimar. Após a derrota para a tríplice entente, os militares entregaram o poder aos civis e no dia 9 de novembro de 1918, em Berlim, o deputado Philipp Scheidemann proclamou a república alemã. Todavia, era tácito o grande descontentamento social – círculos da burguesia, da agricultura, do funcionalismo público e dos militares assumiram uma postura de indiferença ao sistema parlamentarista. Várias vezes a direita tentou restabelecer a monarquia na Alemanha, mas o partido comunista encontrava-se obstinado a transformar o Estado alemão idêntico ao modelo da revolução russa. As principais cidades alemãs, como Berlim e Frankfurt, eram palcos de constantes conflitos com a escalada vertiginosa da violência. Face a um iminente estado de anomia, a pequena cidade de Weimar, um ano depois, a 11 de agosto de 1919, acolheu uma assembleia constituinte que promulgou a Constituição e transformou a Alemanha numa república parlamentar “democrática”.
Particularmente, discordo do argumento do diretor. Na minha concepção, trata-se de mais uma produção cinematográfica com manifesta intenção política e ideológica a favor do progressismo.
A sociedade alemã pós I Guerra educou sim as suas crianças com extremo rigor no que diz respeito às manifestações dos desejos e dos afetos. Preservou o zelo pela reputação moral individual e familiar, exagerou no senso de responsabilidade para com o trabalho e os afazeres domésticos/ coletivos e exaltou a admiração pela pureza representada pela fita branca presa aos cabelos das meninas e amarrada nos braços dos meninos. Todavia, não há algum indício seguro que nos faça pensar ser essa geração de crianças, educada no conservadorismo alemão entre guerras, a responsável pela ascensão do nazismo. Ao contrário, diante do surgimento de uma sociedade inusitada para os padrões sociais e culturais da Alemanha conservadora do fim da segunda década do século XX, esses jovens ficaram à margem dos acontecimentos, meros espectadores sem interferência direta nos acontecimentos.
A Alemanha derrotada e destruída pela primeira guerra mundial (1914-1918) abrigava um povo humilhado pela pobreza e pelas imposições econômicas e políticas dos vencedores. Em meio desse clima derrotista nasceu uma sociedade totalmente avessa ao passado próximo reacionário: a República de Weimar. Após a derrota para a tríplice entente, os militares entregaram o poder aos civis e no dia 9 de novembro de 1918, em Berlim, o deputado Philipp Scheidemann proclamou a república alemã. Todavia, era tácito o grande descontentamento social – círculos da burguesia, da agricultura, do funcionalismo público e dos militares assumiram uma postura de indiferença ao sistema parlamentarista. Várias vezes a direita tentou restabelecer a monarquia na Alemanha, mas o partido comunista encontrava-se obstinado a transformar o Estado alemão idêntico ao modelo da revolução russa. As principais cidades alemãs, como Berlim e Frankfurt, eram palcos de constantes conflitos com a escalada vertiginosa da violência. Face a um iminente estado de anomia, a pequena cidade de Weimar, um ano depois, a 11 de agosto de 1919, acolheu uma assembleia constituinte que promulgou a Constituição e transformou a Alemanha numa república parlamentar “democrática”.
Pois foi justamente a República “democrática” de Weimar, entre os anos de 1919 a 1933, que gerou uma sociedade “sui generis”. O conservadorismo nos costumes foi substituído em larga escala por um comportamento social marcado pela boemia, pelos vícios, pela ausência de pudor nos relacionamentos, pela proliferação das casas de jogos de azar e dos prostíbulos. Em apenas 14 anos, a sociedade alemã dos primeiros anos do século XX ficou irreconhecível. A crise moral dessa sociedade foi muito bem representada nas artes pela Escola de Bauhaus. Algumas das obras dessa época foram recentemente expostas na sala de arte Schirn Kunsthalle, em Frankfurt. A mostra nominada de Glanz und Elend in der weimarer republik (Brilho e Miséria na República de Weimar), expôs obras, dentre outros artistas, de Jeanne Mammen, pinturas fiéis da decadência moral e ética desse período na Alemanha.
A república de Weimar criou uma sociedade sem valores, ressentida e invejosa que, a título de vingança àqueles que a impuseram sanções e humilhações, impetradas pelo Tratado de paz de Versalhes, elegeu o nazismo como seu porta-voz. Mas atentemos para o seguinte – inequivocamente os pilares do nazismo foram construídos pelos trabalhadores insatisfeitos com suas condições de vida e trabalho, pelos milhares de desempregados e pela elite artística assumidamente comunista. A classe média conservadora foi literalmente “jogada” para a margem dessa sociedade que foi a mais devassa já produzida pela Europa, até então. O renomado biógrafo de Adolf Hitler, Joachim Fest, escreveu no volume I da biografia do Führer uma passagem reveladora sobre as relações sociais precedentes ao nazismo:
“Todos se ressentiam em especial da brusca e provocante ruptura com as normas em vigor no domínio da moral. O casamento, enunciava uma ética social do comunismo, outra coisa não era que um nefasto “produto do capitalismo”, a revolução o eliminaria, exatamente como as penas previstas para o aborto, a homossexualidade, a bigamia ou o incesto. No entanto, a classe média, em sua grande maioria, sempre tinha se considerado representante e guardiã da moral comum e encarava toda a crítica feita a ela como uma ameaça pessoal. Também considerava intolerável o fato de só se ver o casamento uma simples formalidade administrativa, como fazia a União Soviética em seus primórdios. Condenava com a mesma veemência a “teoria do copo d’água”, segundo a qual o desejo sexual não era diferente da sede, isto é, uma necessidade elementar que era preciso satisfazer sem mais rodeios. (...) As peças teatrais dos anos 20 abordavam o tema do parricídio, do incesto ou do crime comum e se arriscavam a provocações que eram aplaudidas pelos espectadores. Na cena final da ópera de Bertolt Brecht e Kurt Weill, Mahagonny, os atores desfilavam no palco portando flâmulas nas quais se lia: “Pelo caos nas cidades”; “Pelo amor livre”; “Pela honra dos assassinos”; “Para a imortalidade dos canalhas” “.
Alguém aí se chocou com a descrição acima da desajustada sociedade de Weimar dos anos 1920-30? Certamente não.
O comunismo carcome a moralidade de homens e de mulheres. Não é mera coincidência a degradação moral e ética do povo brasileiro e a violência sem precedentes fomentada nos governos petistas. O próximo passo seria implantar o governo autoritário comunista. Foi o que ocorreu na Alemanha nazista, se não por um detalhe – os comunistas realizaram o trabalho sujo preliminar, porém foram traídos pelo Führer que não admitiu dividir o poder com eles. Extinguiu todos os partidos políticos, incluindo o partido comunista.
Seguindo essa linha de raciocínio, tomo como equivocada a tese do cineasta Michael Haneke ao fazer crer que a sociedade conservadora alemã do início do século XX, representada no filme “A fita branca” (Das Weisse Band), através dos costumes da pacata e conservadora aldeia protestante de Eichwald, tenha sido a propulsora do nazismo. Ao contrário, foi a sociedade forjada na República de Weimar, marcada pelo hedonismo, niilismo ético, laicidade e pela libertinagem a prima causa da ascensão da Alemanha nazista.
Dito de outro modo, não parece inverossímil crer na hipótese de ser o conservadorismo o antídoto contra o autoritarismo, e não a sua causa. O pensamento conservador se ampara em uma visão de mundo que postula a preservação das instituições que salvaguardam a estabilidade coletiva e a liberdade individual. Um mecanismo de autorregeneração diante da iminente destruição de uma sociedade. Na contemporaneidade podemos observar esse fenômeno em democracias que, atacadas pelo progressismo predatório internacional, recuaram para governos democráticos com viés conservador – exemplos recentes vimos na Hungria, Grécia, Polônia, Itália e mais recentemente no Chile, Peru e no Brasil.
Aquilo que hoje alguns incautos chamam de “onda conservadora” no mundo, nada mais é do que um sistema refratário de autodefesa social imanente a qualquer sociedade. Ele entra em alerta quando detecta sinais de risco iminente de autodestruição. Foi esse o fenômeno que ocorreu no Brasil – ao detectar um imediato risco de ruptura do tecido social, a sociedade reagiu e impediu a instalação de um regime antidemocrático. Se equivocam aqueles que consideram o povo brasileiro como incapaz politicamente. O povo brasileiro é antes refém da pobreza endêmica que o impele a reproduzir uma política criminosa.
Para finalizar, creio que do texto se depreende duas coisas: a primeira confirma que a arte pode ser usada como instrumento político de doutrinação subliminar, e a miúdo é usada para tal; a segunda sugere que o progressismo chegou ao seu limite e encontra-se em franca decadência mundial. Todavia é certo também que as mentes socialistas obstinadas pela destruição vão continuar maquinando a implantação de um “perfeito” mundo das trevas, digo, da “paz”. É certo também que terão de se transmutar, lentamente, o mundo está se imunizando contra o progressismo. Semelhante à República de Weimar, oxalá reste somente a “arte” como lembrança desse período – os tenebrosos tempos do início do século XXI. Nós vivemos todo esse terror.
Filme
Das Weisse Band. Obra cinematográfica. Diretor: Michael Haneke. Produção conjunta: Alemanha, Áustria, França e Itália. 2009.
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