Na Alemanha vivem 80 milhões de pessoas. Destas, 61,5
milhões estavam aptas a votar nas eleições do dia 24 de setembro de 2017,
domingo passado. O voto no país não é obrigatório, de modo que, dos eleitores,
77,1% compareceram às urnas – 44, 31 milhões de votantes.
Um estudo da Friedrich-Ebert-Stiftung3 demonstrou
que a maioria dos alemães estava muito interessada e informada sobre a
política, eles observaram os eventos políticos e as atividades de campanha de
todos os partidos e candidatos, porém as principais razões para a considerável
abstenção eleitoral estiveram ligadas principalmente ao desinteresse pelos
políticos.
Abaixo estão
elencados os motivos pela ausência dos 22,9% dos eleitores alemães que optaram
pelo “não voto”, segundo o percentual das respostas:
34% porque os políticos não se preocupam mais com os cidadãos comuns;
31% porque os políticos estão preocupados só com a sua própria carreira política;
24% porque a insatisfação é geral com todo o sistema político;
21% porque os partidos não diferem mais uns dos outros;
20% porque não vale a pena escolher um candidato se podemos reivindicar com nossa própria voz (uso das redes sociais);
18% porque nenhum partido representa meus interesses.
34% porque os políticos não se preocupam mais com os cidadãos comuns;
31% porque os políticos estão preocupados só com a sua própria carreira política;
24% porque a insatisfação é geral com todo o sistema político;
21% porque os partidos não diferem mais uns dos outros;
20% porque não vale a pena escolher um candidato se podemos reivindicar com nossa própria voz (uso das redes sociais);
18% porque nenhum partido representa meus interesses.
Desde o inicio do ano
já era dada como certa a reeleição de Angela Merkel como chanceler da
Alemanha. Contudo, a grande estranheza, em especial para os próprios alemães,
nesta eleição para o Bundestag foi o crescimento do partido nacionalista de
direita, o “Alternativa para a Alemanha” ( Alternative für Deutschland, AfD). De
orientação populista/conservador, ideologia sem alguma expressão no cenário
político alemão desde 1945, conseguiu subir ao parlamento com 12,6% dos votos
válidos. Dentre as pautas polêmicas do partido criado em 2013 estão a saída da
Alemanha da União Europeia, a volta da moeda marco alemão (retirada de
circulação em 2002 e substituída pelo Euro), a negação do holocausto e um
contundente discurso anti-imigrantes e refugiados, especialmente contra os
muçulmanos.
Mas, afinal, que
partido é este? Com absoluta certeza um partido sem nenhuma expressão para a
Alemanha, apesar do estardalhaço da imprensa com intuito de vender ideias
irreais, mas que provocam o imaginário popular. A fragilidade do AfD ficou
clara já nas 48 horas após as eleições quando Frauke Petry, co-fundadora do
partido, anunciou a sua saída do partido.O marido, Marcus Pretzell e mais dois
integrandes parlamentares estaduais, Uwe Wurlitzer e Kirsten Muster, deixaram igualmente o grupo
do AfD. Especula-se se outros deputados da Renânia do Norte-Vestefália pedirão
o desligamento do grupo em breve. A inusitada declaração pública de Frau Petry
“ tenho cinco filhos e tenho responsabilidade com eles, ademais a gente sempre
precisa se olhar no espelho” causaram espécie – a única explicação pública
explicitada por ela para o racha. Segundo palavras de Petry, sua atuação no
Bundestag será como parlamentar independente e, certamente, uma pedra no sapato
de Merkel.
Mas quem são os eleitores de Alexander
Gauland e Alice Weidel? os sobrantes com expressão no AfD. Por mais paradoxal
que possa parecer, os principais eleitores do “Alternativa para a Alemanha” são
do leste germânico, estados que pertenciam à Alemanha comunista - Thuringia e Saxônia-Anhalt, além dos 460 mil
votos que vieram diretamente de eleitores do partido de esquerda ( die Linke),
segundo dados dos pesquisadores eleitorais. O perfil dos votantes do AfD são
homens entre 35 e 45 anos, desempregados, ou de pessoas acima dos 60 anos com
grande preocupação em relação a ameaças à identidade e à cultura alemã. Apenas
10% dos jovens alemães entre 18 e 24 anos deram seu voto para o AfD. Considerando
que o AfD teve 12,6 % dos votos dos 44,1 milhões de votantes, na verdade o
partido teve votos de aproximadamente 6 milhões de alemães num universo de 61
milhões que estavam aptos a votar.
Naturalmente, para
além das questões culturais, econômicas e de apego ao mero poder de governar o
país mais importante da Europa, pesou também o temor em relação à segurança nacional.
Mas para outros foi a abertura das fronteiras da Alemanha para a entrada de
refugiados a gota d’agua. Acusaram Merkel de ser a responsável pelo crescimento
dos neonazistas, colocando-lhe o codinome de “die Mutter des Monsters’ - a mãe
do mostro.
Existem cerca de 5
milhões de muçulmanos vivendo na Alemanha, a maioria deles turcos descendentes
dos trabalhadores que migraram da Turquia nos anos 1960 como mão de obra na
reconstrução pós II Guerra. Também é verdade que eles não conseguiram se
integrar na cultura alemã, mesmo depois de quatro gerações vivendo e trabalhando
no país. Esse é um antigo e forte problema interno que Merkel não conseguiu
resolver e tampouco se furtará de encarar na sua 4ª gestão como chanceler da
Alemanha.
De acordo com o
jornal Berner Zeitung, Alice Weidel, outro forte nome do AfD, tem 38 anos,
assumidamente lésbica, casada com Sarah Bossard, 35 anos, uma produtora de
filmes suíça com ascendência indiana. O seu principal slogan na campanha
eleitoral foi “Ehe für alles, Während
das land islamisiert wird? “Casamento pra todos enquanto o país é
islamizado? Uma crítica ao grande debate sobre o casamento entre pessoas do
mesmo sexo que foi aprovado na Alemanha em julho deste ano. Assim é o
“Alternativa para a Alemanha”, um partido com imensas contradições internas, mas
principalmente com incoerências externas, incompreensíveis aparentemente, como
a que demonstra que os eleitores de um partido que se diz de extrema-direita
ter conseguido 94 acentos no parlamento com votos majoritariamente da esquerda. Merkel já deixou
claro que será uma questão de honra para ela combater o AfD no parlamento
alemão. Sobre a dissidência precoce de Frauke Petry do AfD, é possível presumir que ela com apenas 42
anos de idade, com boa votação para uma extremista de ultra direita no
Bundestag, está estrategicamente pensando nas eleições da próxima década.
Angela Merkel vai
governar com o apoio dos liberais e dos verdes, compondo, assim, a maioria do
parlamento alemão, todavia, o único partido verdadeiramente de oposição à
democracia cristã (CDU) será o AfD.
Parlamento Alemão – 709 acentos distribuídos como abaixo
União
Democracia Cristã (Merkel)
246
|
Social
Democracia
153
|
Alterativa para a
Alemanha
94
|
Os Liberais
80
|
A Esquerda
69
|
Os Verdes
67
|
Quem é Angela Merkel?
Nasceu em 1954 em Hamburgo. Viveu sua infância e mocidade na antiga Alemanha comunista. Nega, porém,
veementemente sua passagem pela juventude socialista e declara que nunca foi
afetada pelo doutrinamento ideológico, ao contrário, sempre desejou um projeto
democrático para a Alemanha. O lar luterano a salvou das tentações e ilusões da
doutrina do Estado socialista, segundo seus biógrafos, em que pese o pai ter sido considerado um pastor “vermelho”. Tem
doutorado em Física e chegou a trabalhar na Academia de Ciências da RDA. Com o
seu segundo marido, o químico quântico Joachim Sauer, leva uma vida simples em
Berlim, não tiveram filhos. Residem em um apartamento modesto, fazem compras no
super mercado, falam com as pessoas nas ruas. Quando Merkel viaja como
Chanceler em aeronave do Estado, o marido a acompanha em voo comercial com
passagens pagas no cartão de crédito pessoal. É carinhosamente chamada de Mutti
(mamãe) por muitos alemães. Considerada pela Revista Forbes a mulher mais
poderosa do mundo, é chanceler da Alemanha desde 2005, concluirá o atual mandato
em 2021 – perfazendo 16 anos no poder. O maior desafio do governo de Merkel será a integração dos refugiados e a estabilidade da União Europeia.
Fontes: Frankfurter Allgemeine; Stuttgarter–Zeitung;
Der Spiegel; Merkur.de; Berner Zeitung; anotações
pessoais.
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