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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

PT - a verdade ao avesso

Este texto foi escrito a quatro mãos. Não sou dissidente do PT e de nenhum outro partido político. Desde sempre achei promíscua a relação visceral entre sociólogos e a política partidária. Limito-me à educação, às pesquisas e análises das conjunturas. Todavia, sou defensora do capitalismo social, do liberalismo e do estado democrático de direito. Dito isso, este texto é de autoria de um ex- integrante do Partido dos Trabalhadores que solicitou anonimato. Organizei o texto e aceitei publica-lo nas minhas redes por entender tratar-se de uma contribuição para os cidadãos comuns que se interessam pelo cenário político brasileiro.

O texto


Fui petista de 1982 a 2005. Filiado, pagava o “dízimo” e tinha a carteirinha (nada de mais, era moda entre os universitários se filiar). Estávamos saindo de um governo militar e como a maioria das pessoas que lia o Pasquim, e os outros jornais de oposição, acreditávamos que o partido abençoado pelos “intelectuais”, os "artistas" e a mídia seria a solução dos problemas sociais no Brasil.
Como o Gabeira, eu também sonhei o sonho errado. Quando houve o Mensalão, e pouca gente se importou ou se indignou, eu fiquei mal mesmo.. Como aquilo poderia ter acontecido? Então descobri um texto do grande ídolo socialista - Lenin. Ele escreveu neste texto de 1920, "esquerdismo é doença infantil do comunismo", e neste texto ele diz claramente que 'todo esquerdista é um comunista em potencial, esperando o momento certo para agir". Pensei - eu não fui criado nem educado para ser comunista. Até porque sabia bastante sobre estas pessoas "que queriam fazer um mundo melhor" e que para implantar o "paraíso" na terra assassinaram cerca de 150 milhões de pessoas mundo afora. Então não sou eu quem diz que esquerdista é comunista, mas é o líder da revolução Bolchevique.
Tudo o que o PT fez no governo entre 2002 e 2016 foi obedecendo uma agenda esquerdista: "distribuiu migalhas aos pobres e dividiu o grosso dos recursos públicos com os ricos". Apesar de o Lula falar mal dos bancos, o setor financeiro no Brasil nunca ganhou tanto dinheiro como no seu governo, basta ver como os juros e as taxas bancárias subiram. Tudo o que foi "dado" aos mais pobres foi com os impostos que todos os brasileiros pagaram - o Estado não tem nada - apenas administra os recursos do povo. Se o PT queria mesmo melhorar a vida dos mais necessitados e não lhes dar esmolas, deveria ter desonerado a Folha Salarial ou de Pagamentos. Sabe o que é isto? Todo patrão paga três salários na folha de pagamento da sua empresa, mas apenas um vai para o bolso do trabalhador, os outros dois vão para o Estado para bancar a máquina pública - 37 ministérios, 37 ministros e seus vices, 35 partidos, 17 mil sindicatos, os juízes do Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público Federal, 594 parlamentares, seus vices e assessores - mais de 2 milhões de funcionários públicos federais.  As secretarias dos movimentos sociais, milhares de ONGs, a UNE, entre outros excessos com fins eleitoreiros que vivem graças ao suor do trabalhador brasileiro.  Não dá para esquecer também o desvio de cerca de 1 trilhão de reais, segundo apontam as investigações da PF e MP, por meio das propinas.
Pois é! Com a desoneração, nosso trabalhador de base receberia muito mais, e todos os assalariados, cujo salário se pauta pelo mínimo, estariam ganhando mais de dois salários. Se o mínimo é R$ 937,00 hoje, todo o trabalhador ganharia com a desoneração cerca de R$ 2. 811,00. Mas o PT fez isto? Claro que não! "DEU" uma bolsa esmola para os miseráveis e os manteve prisioneiros do assistencialismo, e os trabalhadores vão continuar amaldiçoando os patrões porque não ganham aumento. Porém, se o patrão lhes der R$ 10,00 na folha de pagamento estará dando R$ 20,00 para o Estado ineficiente e gastador. O aumento do salário mínimo, que tanto se gaba o PT, refletiu automaticamente na ampliação dos impostos para o guloso governo esquerdista, uma bela manobra insuspeita.
Bem, já que estamos falando de diminuição da pobreza, todos deveriam saber que o DIEESE, um Instituto que pesquisa o custo de vida mensalmente, afirma que para uma família de 4 pessoas viver com dignidade seria necessário, em setembro, um salário de R$ 3.668,55, mas a maioria de nossos trabalhadores de base ganha 3,9 vezes menos que isto, ou seja R$ 937,00. O que o PT fez a respeito? Nada. Já pensou se ele não fosse o partido dos trabalhadores? Vou falar sobre alguns dos fracassos das "criações" do Lula: minha casa, minha vida - os prédios estão em ruínas e os mutuários inadimplentes; a criação de universidades públicas não significou aumento na qualidade do ensino, o Fies quebrou as universidades, endividou os estudantes e está sob suspeita de desvio de R$ 200 milhões; o Ciência sem Fronteiras foi um escândalo - os alunos viajavam sem saber a língua do país onde iriam estudar, aliás sequer bem o português compreendiam porque o ensino básico é uma tragédia no Brasil, temos 12 milhões de analfabetos; o Pronatec não significou mais empregos. Todos os programas do governo petista estão sendo investigados por fraudes. Nenhum deu certo. Hoje claramente se vê isso.
 Agora respondam - para quê mais universidades públicas? pagas com nosso dinheiro. O Brasil possui 112 universidades públicas - quantas pesquisas de ponta estão desenvolvendo? O que foi que inventaram para melhorar a vida dos brasileiros? Já ganhamos algum NOBEL? Sabiam que somente a universidade privada de Harvard, nos Estados Unidos, já recebeu 72 Nobéis? Pois é! Nas universidades americanas e europeias não tem greve de professores e como os pais pagam pelo estudo dos filhos, a juventude estuda mesmo ao invés de ir queimar pneus nas ruas, fazer badernas e depredar o patrimônio público.
Vamos falar de Dilma, a terrorista, que além de tudo é incompetente. Ela foi retirada do Poder porque não respeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Diz tal lei que ela não podia gastar mais do que devia nem pedir empréstimos aos bancos públicos sem a autorização do Congresso Nacional. Vejam, está na Constituição, mas o PT, com seus projetos totalitários, não gosta de cumprir a Lei. Em relação à intolerância que tomou conta do Brasil, não esqueçam que foi o "deus" Lula quem começou com o NÓS x ELES. Foi o PT, delatado, quem começou a insidiosa campanha contra os empresários que dão emprego para milhões de pessoas, que não atrasam nem parcelam salários e não deixam de pagar o 13º salário, sob pena de pagarem multas vultuosas aplicadas pela já ideologizada Justiça do Trabalho. Entendamos que PT, PMDB e PSDB são a mesma coisa.
Este papo absolutista de que o PT governou para os mais pobres não passa na garganta de mais ninguém, não cola mais. Ninguém quer que haja pobres, isto envergonha o Brasil, atrapalha o desenvolvimento porque se vende menos, se produz menos, imobiliza a economia. Isto sempre foi papo dos quadros do PT para jogar uns contra os outros, coisa que a esquerda faz muito bem. Aliás, jogar uns contra os outros é recomendação de Lenin também. Uma orientação assistencial para os pobres, incentivos vultuosos para os "intelectuais" e "artistas", mas só para os alinhados com o governo. Assim, o PT incentivou a inação acadêmica. Entre os "intelectuais" foram criadas verdadeiras castas ideológicas - só ganhou verba para pesquisa o professor e o aluno que estivesse alinhado com o pensamento da esquerda, verbas públicas essas mediadas pelos temidos "Comitês de Assessoramento Científico". E os artistas só recebiam da Lei Rouanet se fossem "progressistas", ou seja, defendessem a pauta do governo, por isso entende-se o desespero deles hoje. Alguém lembra que em 2011 a cantora Maria Bethânia foi autorizada pelo Ministério da Cultura a captar R$ 1,3 milhões para criar um blog com objetivo de divulgar poesias? Dinheiro suado do trabalhador. No mais, o PT governou para si próprio para estabelecer seu projeto de Poder. Queria ficar no Poder 'ad aeternum' como o sinistro da Coréia do Norte, ou como os Castro em Cuba, ou a turma do Chaves na Venezuela ou ainda como o Partido Comunista na China - todos muito "democráticos". Tenho amigos graduados, inteligentes e produtivos, mas que nunca conseguiram passar em nenhuma prova do Mestrado ou Doutorado, ou ainda em concursos nas universidades públicas, isso porque a Banca Examinadora detectava neles um certo anti-esquerdismo. Isso não é nenhum segredo. Os casos de ilícitos com recursos públicos nas universidades federais estão publicados na imprensa. São exemplos as operações da Polícia Federal na Universidade Federal de Santa Catarina, a fraude milionária no repasse de bolsas e de auxílios à pesquisa na Universidade Federal do Paraná, a operação da PF na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quando professores foram presos acusados de desviarem R$ 5,8 milhões em bolsas de estudo; a polícia também apurou o caso de um aluno que recebeu o título de mestre sem ter frequentado o Curso ou realizado avaliações, o que evidenciou, segundo a polícia, o direcionamento de seleções. Poderia citar dezenas de outros casos e, certamente, muitos outros estão sendo investigados, como aconteceu recentemente com a UFMG.
Alguém falou que as escolas melhoraram. E como! Os resultados demonstram que nossos alunos não sabem nada de História, Geografia, Matemática, Ciências, Línguas estrangeiras, mas são experts em Feminismo e Ideologia de Gênero. Estão levando nossos alunos para visitarem Quilombos criados a partir do Decreto 4887 de novembro de 2003 - governo Lula, claro! Quilombos fundados 119 anos depois da Abolição, um escândalo. No Rio havia um acampamento do MST, no tradicional colégio Pedro II, colocado lá por um "diretor" que é filiado a um partido de esquerda, evidente. Pode-se chamar isso de educação de qualidade?
O PT e seus aliados são comunistas. É prudente que saibamos quais partidos defendem essa pauta ainda hoje. Alguns deles não elegem candidatos há anos, mas continuam recebendo do fundo partidário que nós brasileiros bancamos. Para finalizar, os comunistas brasileiros serão julgados pela história muito mais pelo que deixaram de fazer quando detinham o poder no País do que pelos crimes que cometeram no exercício dele.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Como matar um corpo sem deixar vestígios e se apoderar dele.


Em cinco passos:

1 – Mostre-se amigável. Dê-lhe graciosamente muita glicose e gordura. Incauto, o cérebro ainda é primitivo e adora armazenar calorias;

2 – Faça- o acreditar que as benesses são imutáveis – deixo-o ocioso, inchado e confiante; 

3 – Depois de algum tempo, ele vai apresentar sinais de enfraquecimento imunológico (os “soldadinhos” perdem a força). Quando isso ocorrer, inocule nele um vírus devastador;

4 –  Mantenha-o por algum tempo em sofrimento intermitente;

5 – Prestes a entrar em falência múltipla dos órgãos, ofereça-lhe a cura. Ele lhe ofertará resignadamente até a alma, e ser-lhe-á grato para todo o sempre.

Por analogia (uma ferramenta muito usada por professores no processo ensino-aprendizagem) é possível representar, com o auxílio da biologia, como o PT e seus aliados planejaram tomar o Estado brasileiro através do fomento da violência urbana, do crime organizado e da institucionalização patológica da criminalidade de "colarinho branco".

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Alemanha pós eleições – uma outra perspectiva.


Na Alemanha vivem 80 milhões de pessoas. Destas, 61,5 milhões estavam aptas a votar nas eleições do dia 24 de setembro de 2017, domingo passado. O voto no país não é obrigatório, de modo que, dos eleitores, 77,1% compareceram às urnas – 44, 31 milhões de votantes.

 Um estudo da Friedrich-Ebert-Stiftung3 demonstrou que a maioria dos alemães estava muito interessada ​​e informada sobre a política, eles observaram os eventos políticos e as atividades de campanha de todos os partidos e candidatos, porém as principais razões para a considerável abstenção eleitoral estiveram ligadas principalmente ao desinteresse pelos políticos.

Abaixo estão elencados os motivos pela ausência dos 22,9% dos eleitores alemães que optaram pelo “não voto”, segundo o percentual das respostas:
34%   porque os políticos não se preocupam mais com os cidadãos comuns;
31%   porque os políticos estão preocupados só com a sua própria carreira política;
24%   porque a insatisfação é geral com todo o sistema político;
21%   porque os partidos não diferem mais uns dos outros;
20%   porque não vale a pena escolher um candidato se podemos reivindicar com nossa própria voz (uso das redes sociais);                                                                                      
18%   porque nenhum partido representa meus interesses.

Desde o inicio do ano já era dada como certa a reeleição de Angela Merkel como chanceler da Alemanha. Contudo, a grande estranheza, em especial para os próprios alemães, nesta eleição para o Bundestag foi o crescimento do partido nacionalista de direita, o “Alternativa para a Alemanha” ( Alternative für Deutschland, AfD). De orientação populista/conservador, ideologia sem alguma expressão no cenário político alemão desde 1945, conseguiu subir ao parlamento com 12,6% dos votos válidos. Dentre as pautas polêmicas do partido criado em 2013 estão a saída da Alemanha da União Europeia, a volta da moeda marco alemão (retirada de circulação em 2002 e substituída pelo Euro), a negação do holocausto e um contundente discurso anti-imigrantes e refugiados, especialmente contra os muçulmanos.  

Mas, afinal, que partido é este? Com absoluta certeza um partido sem nenhuma expressão para a Alemanha, apesar do estardalhaço da imprensa com intuito de vender ideias irreais, mas que provocam o imaginário popular. A fragilidade do AfD ficou clara já nas 48 horas após as eleições quando Frauke Petry, co-fundadora do partido, anunciou a sua saída do partido.O marido, Marcus Pretzell e mais dois integrandes parlamentares estaduais, Uwe Wurlitzer e  Kirsten Muster, deixaram igualmente o grupo do AfD. Especula-se se outros deputados da Renânia do Norte-Vestefália pedirão o desligamento do grupo em breve. A inusitada declaração pública de Frau Petry “ tenho cinco filhos e tenho responsabilidade com eles, ademais a gente sempre precisa se olhar no espelho” causaram espécie – a única explicação pública explicitada por ela para o racha. Segundo palavras de Petry, sua atuação no Bundestag será como parlamentar independente e, certamente, uma pedra no sapato de Merkel.  
Mas quem são os eleitores de Alexander Gauland e Alice Weidel? os sobrantes com expressão no AfD. Por mais paradoxal que possa parecer, os principais eleitores do “Alternativa para a Alemanha” são do leste germânico, estados que pertenciam à Alemanha comunista -  Thuringia e Saxônia-Anhalt, além dos 460 mil votos que vieram diretamente de eleitores do partido de esquerda ( die Linke), segundo dados dos pesquisadores eleitorais. O perfil dos votantes do AfD são homens entre 35 e 45 anos, desempregados, ou de pessoas acima dos 60 anos com grande preocupação em relação a ameaças à identidade e à cultura alemã. Apenas 10% dos jovens alemães entre 18 e 24 anos deram seu voto para o AfD. Considerando que o AfD teve 12,6 % dos votos dos 44,1 milhões de votantes, na verdade o partido teve votos de aproximadamente 6 milhões de alemães num universo de 61 milhões que estavam aptos a votar.

Naturalmente, para além das questões culturais, econômicas e de apego ao mero poder de governar o país mais importante da Europa, pesou também o temor em relação à segurança nacional. Mas para outros foi a abertura das fronteiras da Alemanha para a entrada de refugiados a gota d’agua. Acusaram Merkel de ser a responsável pelo crescimento dos neonazistas, colocando-lhe o codinome de “die Mutter des Monsters’ - a mãe do mostro.

Existem cerca de 5 milhões de muçulmanos vivendo na Alemanha, a maioria deles turcos descendentes dos trabalhadores que migraram da Turquia nos anos 1960 como mão de obra na reconstrução pós II Guerra. Também é verdade que eles não conseguiram se integrar na cultura alemã, mesmo depois de quatro gerações vivendo e trabalhando no país. Esse é um antigo e forte problema interno que Merkel não conseguiu resolver e tampouco se furtará de encarar na sua 4ª gestão como chanceler da Alemanha.

De acordo com o jornal Berner Zeitung, Alice Weidel, outro forte nome do AfD, tem 38 anos, assumidamente lésbica, casada com Sarah Bossard, 35 anos, uma produtora de filmes suíça com ascendência indiana. O seu principal slogan na campanha eleitoral foi “Ehe für alles, Während das land islamisiert wird?  “Casamento pra todos enquanto o país é islamizado? Uma crítica ao grande debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo que foi aprovado na Alemanha em julho deste ano. Assim é o “Alternativa para a Alemanha”, um partido com imensas contradições internas, mas principalmente com incoerências externas, incompreensíveis aparentemente, como a que demonstra que os eleitores de um partido que se diz de extrema-direita ter conseguido 94 acentos no parlamento com votos majoritariamente da esquerda.  Merkel já deixou claro que será uma questão de honra para ela combater o AfD no parlamento alemão. Sobre a dissidência precoce de Frauke Petry do AfD,  é possível presumir que ela com apenas 42 anos de idade, com  boa votação  para uma extremista de ultra direita no Bundestag, está estrategicamente pensando nas eleições da próxima década.

Angela Merkel vai governar com o apoio dos liberais e dos verdes, compondo, assim, a maioria do parlamento alemão, todavia, o único partido verdadeiramente de oposição à democracia cristã (CDU) será o AfD.

Parlamento Alemão – 709 acentos distribuídos como abaixo


União
 Democracia Cristã (Merkel)
246
Social
Democracia
153
Alterativa para a Alemanha
94
Os Liberais

80
A Esquerda
69
Os Verdes 

67


 

Quem é Angela Merkel? Nasceu em 1954 em Hamburgo. Viveu sua infância e mocidade na antiga Alemanha comunista. Nega, porém, veementemente sua passagem pela juventude socialista e declara que nunca foi afetada pelo doutrinamento ideológico, ao contrário, sempre desejou um projeto democrático para a Alemanha. O lar luterano a salvou das tentações e ilusões da doutrina do Estado socialista, segundo seus biógrafos, em que pese o pai ter sido considerado um pastor “vermelho”.  Tem doutorado em Física e chegou a trabalhar na Academia de Ciências da RDA. Com o seu segundo marido, o químico quântico Joachim Sauer, leva uma vida simples em Berlim, não tiveram filhos. Residem em um apartamento modesto, fazem compras no super mercado, falam com as pessoas nas ruas. Quando Merkel viaja como Chanceler em aeronave do Estado, o marido a acompanha em voo comercial com passagens pagas no cartão de crédito pessoal. É carinhosamente chamada de Mutti (mamãe) por muitos alemães. Considerada pela Revista Forbes a mulher mais poderosa do mundo, é chanceler da Alemanha desde 2005, concluirá o atual mandato em 2021 – perfazendo 16 anos no poder. O maior desafio do governo de Merkel será a integração dos refugiados e a estabilidade da União Europeia.   

Fontes: Frankfurter Allgemeine; Stuttgarter–Zeitung; Der Spiegel; Merkur.de; Berner Zeitung;  anotações pessoais.

         

terça-feira, 30 de maio de 2017

A Comuna de Niederkaufungen




Kaufungen é um pequeno município no distrito de Kassel, situado no Estado de Hessen, na Alemanha. O burgo foi fundado no ano de 1017. Hoje, tem aproximadamente 12 mil habitantes. A cidade possui dois bairros, Niederkaufungen e Oberkaufungen - e pode ser traduzido como cidade baixa e cidade alta, respectivamente. 
Em 1980, 12 pessoas residentes em Hamburgo formaram um grupo com objetivo de criar uma comunidade amparada na utopia de vida dos integrantes e no trabalho comunitário. No ano de 1983, o grupo escreveu uma Carta de Princípios e se estruturou juridicamente como uma organização sem fins econômicos.

Eu não quero mais que minha força de trabalho, minha saúde, e minha energia sejam exploradas e dominadas (Carta de Princípios, 1983).

Em 1986, a então "associação de amigos do meio-ambiente" adquiriu da família Schreiber, no município de Kaufungen, um complexo de casas no estilo enxaimel com cinco mil metros quadrados e mais dois mil metros de área comercial - uma pequena vila. À época, dezessete integrantes, com conhecimentos prévios de autogestão e clareza quanto ao modo de vida explicitado na Carta de Princípios, passaram a morar juntos, trabalhar e compartilhar todos os bens da comuna de Niederkaufungen. Após 31 anos da sua fundação, atualmente sessenta pessoas e vinte e sete crianças e adolescentes moram e trabalham nesta Comuna. 

A comunidade é organizada e gerida a partir de quatro princípios vitais: 1) orientação política de esquerda; 2) economia coletiva; 3) o consenso; 4) a desconstrução das estruturas de poder da família convencional e na questão de gênero. 

Segundo o regimento da organização, a orientação política de esquerda deve permear todas as atividades econômicas da Comuna e o modo de vida dos moradores. A meta é experimentar uma sociedade avessa à sociedade capitalista. Para isso, a Comuna preconiza a não exploração uns dos outros, a ausência de hierarquias, a não dominação de saberes e crenças e a aversão a qualquer forma de preconceito. Eles são contrários à propriedade privada e consideram os movimentos ecológicos, marxistas, feministas e anarquistas como representantes da esquerda contemporânea e capazes de realizar juntos o projeto socialista.

A ecologia política é colocada em prática na produção e no consumo de alimentos sem agrotóxicos e sem conservantes. O grupo também participa de ações e protestos contra a energia atômica, a favor do feminismo, das imigrações e do movimento Attac < https://www.attac.org/> 

A administração dos recursos financeiros também é coletiva de modo que na Comuna existe um caixa único que recebe valores advindos dos negócios do grupo, dos salários dos membros que trabalham fora da Comuna, dos auxílios sociais que alguns membros recebem do poder público, de presentes e de doações. Já o capital é constituído do patrimônio das pessoas que aderem à vida na Comuna - seus bens móveis e imóveis são doados à Organização e passam a ser bens coletivos. As despesas cotidianas como transporte, alimentação, vestuário, lazer e férias são suportadas pelo salário de cada um, salário-família, auxílio desemprego e por doações. Na economia coletiva, as propriedades e o dinheiro são de todos. Na comunidade, os moradores são livres para decidir quando e como desejam realizar um aperfeiçoamento pessoal ou profissional, porém a decisão deverá ser apresentada para o grupo e decidida coletivamente numa plenária. O mesmo acontece com as férias -  cada um decide o tempo que necessita e quando vai usufruí-las. O objetivo é incentivar uma postura individual e coletiva responsável e consciente diante da produção, do consumo e do seu próprio comportamento grupal.

O consenso ou o processo de tomada de decisão não é regido pelo princípio da maioria. Pelo princípio da maioria, a maioria vence a minoria que demonstra resistência à adesão do que foi decidido pela maioria. No método do consenso não há votação e todos têm direito ao veto. As pessoas devem ouvir umas às outras e coletivamente colocar uma ideia em prática. Isso não pressupõe o convencimento ou a existência de estruturas de poder e só funciona no bojo de uma lógica de respeito e aceitação dos desejos e necessidades do próximo. Muitas vezes, ocorre dessa prática não acontecer harmonicamente. Neste interim, o grupo busca ajuda externa de um mediador. 

A desconstrução das estruturas de poder é o 4º fundamento da vida em comunidade em Niedergaufungen. O grupo entende que a família, como primeiro grupo de socialização das crianças, representa um locus de enfrentamento dos valores capitalistas. Neste contexto, as relações hierárquicas entre pai, mãe e filhos, a opressão, a obediência e a repressão sexual devem ser eliminadas porque, segundo o grupo, reproduzem as relações capitalistas. Para eles, as habitações coletivas, onde moram até oito pessoas, possibilitam a desestruturação da família "burguesa" e fomenta a escuta mútua, a solidariedade e a tolerância. A dinâmica do WG Abend (noite de encontro do grupo) pode ocorrer semanalmente ou quinzenalmente, e possibilita o diálogo entre os moradores de cada habitação; o objetivo dos encontros é a troca de ideias e a exposição sobre seus sentimentos e dificuldades em relação aos companheiros de moradia. Homens e mulheres que vivem na comunidade exercem uma profissão, podem abrir pequenos negócios dentro da comunidade e implementar novas ideias, se aceitas por todos. Para além do trabalho profissional, todos devem participar do plano de tarefas e de limpeza das dependências comuns e privadas, sem discriminação de gênero.

Atualmente são desenvolvidas quatro áreas de comércio na Comuna: alimentação (hortas orgânicas, produção de mel e derivados do leite e pratos feitos para o consumo interno e externo); saúde (atendimento em diversas especializações como acupuntura, fisioterapia, psicologia e gerontologia); habitação (metalúrgica, marcenaria e placas solares); desenvolvimento pessoal (palestras, congressos, produção de material impresso, impressão em 3D e pesquisas).



Nesse sentido, a empresa chamada Cozinha oferece alimentação para todos os moradores da Comuna e para mais três empresas do grupo - a creche, o centro geriátrico e o centro de convivência. Também oferece serviço particular para festas e confraternizações nas cidades vizinhas. Faz parte da empresa Cozinha, a produção própria de leite, queijo, iogurte, os pomares e a horticultura produzidos de forma sustentável.

Na área da saúde, a Comuna administra consultórios de atendimento psicológico e de supervisão, fisioterapia, acupuntura, ginástica funcional e uma clínica geriátrica especializada no atendimento de portadores de Alzheimer.

No setor de habitação, o grupo desenvolve material de isolamento térmico residencial e restauração de casas antigas. Há ainda uma metalúrgica e uma marcenaria de apoio e uma área específica de planejamento e montagem de placas solares.

No âmbito do desenvolvimento pessoal, o centro de convivência oferece regularmente seminários, cursos e o desenvolvimento de pesquisas de opinião, bem como a produção e edição de obras referentes aos temas relevantes sobre o tema comunas.

A economia coletiva praticada pelo grupo pressupõe que todas as pessoas da comunidade desenvolvam suas habilidades e que essas não estejam vinculadas com a mera produção de bens que visam rendimentos e lucros. Assim, as atividades domésticas como lavar, secar e guardar a louça têm o mesmo valor das atividades realizadas no consultório médico, na realização de palestras e no processo educativo nas creches. Dito de outra forma, a divisão parcelar e a hierarquia no trabalho são teoricamente inexistentes nesta forma de organização social; não há divisão social do trabalho.

Acima, fiz uma compilação do histórico, dos princípios e da vida cotidiana na comuna de Niederkaufungen. Abaixo, teço sucintamente algumas considerações pessoais sobre ela:

 *Niederkaufungen não é a única comuna da Alemanha. O país se constitui como um estado democrático de direito e assim permite a livre associação de pessoas, desde que obedecidas as leis.  As comunas são pessoas jurídicas regidas pela legislação das organizações não governamentais.

*As associações de pessoas se caracterizam como Non-Profit-Organisationen / NGOs (ONGS) e desfrutam da lei da caridade, não sujeitas ao pagamento de impostos, o que as tornam atraentes para quem possui bens imóveis, mas sem meios de sobrevivência. Na Alemanha há uma complexa e efetiva rede de benefícios sociais para garantir o bem-estar de todos, porém, para usufruir dos benefícios sociais é preciso primeiro esgotar as possibilidades materiais pessoais.

*As comunas não conseguem a autossuficiência. Ofertam uma série de serviços pagos para o público externo, como também adquirem mercadorias de empresas privadas. Outra fonte de renda são os benefícios sociais (sozialhilfe) a que os membros têm direito enquanto cidadãos alemães. 

*Descrito no histórico da Comuna de Niederkaufungen, cerca de mil pessoas sentiram-se atraídas pelo projeto inicial. Todavia, tudo indica que durante as três décadas de existência não mais de 100 membros, entre crianças, adolescentes e adultos, viveram juntos num mesmo período de tempo. É possível inferir que as crianças em idade escolar, ao se defrontarem com outra realidade fora da Comuna, optam em deixa-la ao adquirirem a maioridade legal. 

*Particularmente, a visita à Comuna foi para mim uma experiência rica e reveladora. Creio que o modo de vida coletivo pode ser enriquecedor para alguns, mas fonte geradora de angústias e limitações para outros. A produção é limpa e ecológica, porém insuficiente para a subsistência do grupo. O Estado continua sendo uma fonte fundamental de sobrevivência da Comuna, seja através da isenção de impostos ou pela ajuda social. 

*A organização de vida de tais grupos é sem dúvida uma prática de contestação ao modo de vida capitalista. Particularmente, questiono se tais experiências poderiam prosperar nas democracias, enquanto projetos nacionais, submetendo milhões de pessoas a um sistema, paradoxalmente, extremamente rígido. A história revela as ditaduras como regimes inaugurais das "revoluções" socialistas, enquanto que o capitalismo, na visão de Fábio Konder, se estabeleceu historicamente e globalmente como uma civilização. 

*Contudo, é fato o declínio do pensamento de esquerda no mundo ocidental. Alguns acadêmicos creditam à narrativa defasada a causa para o sucedido. O ambiente social do século XXI nada mais tem a ver com as sociedades industriais do século XIX. A comunicação hostil também está descolada dos anseios de paz para o mundo. Hodiernamente, reatualizar a teoria e renovar o espírito socialista passa respectivamente pela adequação da teoria às práticas. Dessa perspectiva, erigir uma comuna no Brasil, enquanto usina de experiências práticas, não seria uma ideia anacrônica no bojo dos movimentos de esquerda do país.


quarta-feira, 22 de março de 2017

Lembranças da Guerra. Irmgard Ruppel. Resenha


Existem escritores. Existem pessoas que escrevem boas histórias. Frau Ruppel poderia ser um de nossos parentes - aquele contador das histórias da nossa família. O livro não tem valor histórico acadêmico, mas para quem, como eu, valoriza a sociologia da vida real, é um regalo.

O pequeno livro, publicado na língua inglesa no ano de 2008,  escrito por Irmgard Ruppel, nascida em um apartamento à margem do Rio Spree, em outubro de 1921, Berlim, nos presenteia com relatos cotidianos, ora hilários, ora dramáticos, de uma família alemã antinazista na Alemanha de Adolf Hitler. É amplamente conhecido o fato de o regime do terceiro Reich ter perseguido e assassinado milhões de judeus, milhares de testemunhas de Jeová, ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes físicos e mentais e  opositores ideológicos do regime. O que pouco se manifesta, porém, é que no último grupo acima mencionado se encontravam milhares de germânicos que foram igualmente perseguidos, torturados, confiscados em seus bens materiais, mortos, ou, na melhor das situações, deportados sem algum direito legal. A simplicidade e a despretensão da narrativa de "Lembranças da Guerra" nos conduz seguramente a um passado recente execrável, todavia, cujo esquecimento não é uma boa escolha. Irmgard vive desde 1947 em Nova York, onde se casou e teve dois filhos. Esta história real ela dedica a eles como registro histórico de família e exemplo de resiliência.

A derrota da Alemanha na primeira Guerra Mundial forjou um contexto político e econômico caótico.

     "A nova República não tinha fundamentos democráticos. Oficiais descontentes formaram organizações paramilitares, com a intenção de derrubar o novo governo de centro e centro esquerda. (…). Assassinatos de políticos tornaram-se frequentes (…), o mais proeminente deles foi o do ministro das relações exteriores, o intelectual judeu Walter Rathenau"

Irmgard era filha única de Arthur Zarden, um alto funcionário do Tesouro alemão. Sua mãe era filha de um industrial e prezava por uma vida rica em experiências sociais. Nas palavras de Irmgard " minha mãe me amava, mas não queria ser incomodada com os detalhes da educação de uma criança". De família classe média alta, teve uma escolaridade formal até os 15 anos de idade, contudo, a convivência em círculos sociais cultos e o acesso à literatura, a viagens e a cursos de formação pessoal lhe conferiram uma requintada educação. Os livros se tornaram os seus melhores amigos e desde os sete anos de idade frequentava o teatro e amava os filmes de Chaplin. História era sua matéria preferida, mas cursou aulas de bordado, ciências domésticas, equitação, bridge e dança. Realizou dezenas de viagens pela Europa, Estados Unidos e Norte da África. Conviveu com pessoas influentes - "no outono de 1932, meus pais deram um almoço para 25 pessoas. Entre os convidados estava o príncipe Heinrich, o consorte da rainha Wilhelmina, da Holanda". 

Apesar da herança derrotista da primeira guerra e da Grande depressão, durante a República de Weimar, Berlim "era uma metrópole vibrante e animada, social e, sobretudo, cultural. Peças de teatro, óperas, concertos, museus, galerias de arte e o cenário literário floresciam." No dia 30 de janeiro de 1933, um ato do então presidente da Alemanha, Von Hindenburg, mudaria para sempre a Alemanha e a história do mundo.

"Nesta noite, meus pais foram no elegante Press Ball. Para celebrar a nomeação de Hitler, como chanceler, um desfile com tochas atravessava o portão de Brandenburgo."

Adendo: Adolf Hitler não foi eleito pelo  voto popular direto. A última eleição parlamentar da República de Weimar - 1932 - não conferiu ao partido nazista maioria dos votos. Hitler foi nomeado chanceler por conta de uma coalisão partidária.

Irmgard nos conta que, a partir deste momento, o Führer iniciou a expulsão dos judeus, considerados por ele os responsáveis pela perda da guerra. Nas palavras da autora:

"seu antissemitismo continha um forte componente de inveja - sempre é gratificante culpar uma minoria. (…) Era óbvio que mais cedo ou mais tarde a guerra começaria - em março de 1939, Hitler invadiu a Tchecoslováquia". Foi o começo.

Á época, o exército alemão recrutou todos os homens em condições de lutar, o que afetou a mão de obra para o labor nas fábricas e nos serviços. Todas as mulheres a partir dos 18 anos foram convocadas para servir nos campos de trabalho obrigatório, Irmgard foi uma delas.

A Gestapo rotineiramente monitorava os telefones e as "reuniões sociais". Em setembro de 1943, após um chá na casa de uma família amiga, a vida da família Zarden mudaria para sempre - "a primeira regra na luta pela sobrevivência era nunca falar com estranhos sobre política"

Irmgard foi levada para o campo de concentração de Sachsenhausen, seu pai estranhamente se suicidara na presença de guardas em meio a um interrogatório com o Kriminalrat Lange, e sua mãe morreu em virtude de uma "gripe". " A prisão tinha dois andares, as celas embaixo eram escuras e úmidas (…) a comida, na maioria das vezes uma sopa rala."  Ela fora acusada de alta traição, não sendo o crime relatado. Muitos dos alemães que estavam na "tarde do chá" foram decapitados, mesmo com pedidos de clemência ao Führer.

A guerra termina, outros problemas começam.

" as roupas eram racionadas, todas as que eu tinha eram antes da guerra - os sapatos eram um verdadeiro problema (…) é surpreendente como alguém tenha passado tantos anos sem comprar nada de novo." 

Os alimentos eram escassos, o serviço ferroviário funcionava irregularmente, as mulheres foram chamadas a trabalhar nas fábricas e os reichmarks perderam o valor.

"O centro de Berlim estava em ruínas (…), eu só levaria o que pudesse carregar."

Último capítulo: Indo para a América. Aqui suscito a tua curiosidade. 

Um relato instigante de uma alemã sobrevivente da segunda guerra. Para mim fica a certeza que a paz é sempre melhor que a guerra. Na guerra ou no ódio - todos achamo-nos sujeitos a perder.