As Forças Armadas são
constituídas pelo Exército, Aeronáutica e Marinha. Juntas, elas são
responsáveis por assegurar a integridade territorial em qualquer país do mundo.
As FFAA brasileiras têm como missão zelar pelo território nacional, defender os
interesses e os recursos naturais, industriais e tecnológicos do Brasil, proteger
os cidadãos e os bens do País, e garantir a soberania da Nação. As FFAA são, ao
mesmo tempo, patrimônio e segurança de um povo que se quer soberano e livre.
Por que, então, criou-se no
Brasil um tipo de embirração mal justificada em torno do Exército brasileiro?
Vamos falar um pouco sobre
como se constrói ideologicamente um preconceito.
O preconceito, por definição,
é um julgamento antecipado sobre alguma coisa que ainda não conhecemos em
profundidade. Neste sentido, a verdade sobre um fato carece da distância
temporal - é um requisito necessário para a confrontação entre o passado e o
presente. O filósofo alemão Gadamer (1900-2002) é um especialista no tema.
Segundo ele, todo preconceito tem suas raízes fincadas na história e na
autoridade, de modo que para compreende-lo é necessário seguir três passos 1)
suspender os juízos prévios sobre o fato; 2) questionar o fato – quem fala sobre o fato e de qual lugar fala;
3) abrir-se a outras narrativas.
O brasileiro que tem hoje
menos de 35 anos não viveu sob o governo militar no período 1964-1985. Tudo o
que ele sabe sobre essa época foi dito pelo seu professor do ensino médio ou
por um docente na faculdade, ou foi apreendido por meio das mídias impressas,
televisivas ou virtuais ou ainda dentro de algum diretório acadêmico, movimento
social ou político. Também pode ter lido em algum livro de história. É preciso
esclarecer, então, que a partir de 1984, com o advento das “diretas já”, os que
passam a ocupar os principais espaços políticos, artísticos e acadêmicos são
justamente os dissidentes e os simpatizantes dos grupos que lutavam para
derrubar o governo militar e implantar um regime de matriz ideológica de
esquerda no Brasil – à moda de Cuba e da União Soviética.
A narrativa do “golpe” de 2016
já havia sido bem ensaiada no “golpe” de 1964. Os atores protagonistas são os
mesmos e o objetivo, por que possa parecer, também é o mesmo – transformar o
Brasil num Estado comunista. Percebamos que em 1964 não houve uma tomada do
governo de forma intempestiva como muitos insistem em afirmar. A sociedade
brasileira da época observava atentamente o processo de “esquerdização” do País,
capitaneado pelo então presidente João Goulart. A Marcha da Família com Deus
pela Liberdade, que contou com mais de 200 mil pessoas nas ruas de São Paulo,
teve um papel decisivo nos rumos do Brasil. Os fatos da participação popular
maciça e o abandono do cargo do então presidente do Congresso Nacional raramente
são citados quando os comunistas se referem ao “golpe de 64”. Não é de admirar
que, ao conseguirem o poder em 1985, assumem posições desfavoráveis explícitas
à família cristã, à classe média, às estruturas de segurança pública e de
Defesa Nacional.
Uma matéria da Revista Super
Interessante de 2016, cujo título é a “Revolução à brasileira", nomina todos
os grupos guerrilheiros que tentaram depor o governo militar e implantar,
pasmem, uma ditadura socialista. Esses grupos praticavam atentados terroristas,
assaltos, sequestros e assassinatos. Eram patrocinados e protegidos por Cuba e
pela antiga União Soviética. Nomes hoje venerados pela política e pela academia
brasileira, como o da ex-presidenta Dilma Rousseff, integraram a falange.
Em 2016, o Exército foi
sondado por políticos de esquerda sobre a hipótese de apoiar a decretação do estado
de defesa nos dias que antecederam o impeachment de Dilma. A proposta foi
imediatamente rechaçada pelo Comandante do Exército General Villas Bôas. Eles
tinham em mente usar as Forças Armadas para “conter as manifestações que
ocorriam contra o governo” – revista Veja do dia 24.04.2017. Dito com outras
palavras, o governo do PT cogitou usar soldados para cessarem as “panelas”.
Mais uma vez o Exército esteve ao lado do povo brasileiro e impediu um golpe
comunista.
Sugiro alguns vídeos no
YouTube sobre a temática. Destaco especialmente os seguintes: a) o vídeo do
ex-deputado federal Fernando Gabeira, ex-guerrilheiro e companheiro de Dilma,
José Dirceu e José Genoíno, entrevista na qual ele confirma que o objetivo dos
opositores do governo militar era sim o de implantar o comunismo e uma
consequente ditadura no Brasil; b) a ditadura militar e a ditadura do
proletariado com o ex-petista Eduardo Jorge; c) ex-guerrilheira Vera Silvia
Magalhães (companheira de Dilma Rousseff); d) Padre Paulo Ricardo e ditadura militar
combateu guerrilha e ajudou marxismo cultural. Este último vídeo elucida o
feito das universidades federais brasileiras terem se tornado as porta-vozes do
comunismo no Brasil. Embora raras de encontrar, as publicações de autores com
viés ideológico não marxista são leituras importantes para a compreensão desta mal
contada fase da história brasileira.
Muito bem, até aqui já
cumprimos duas das exigências para romper com um preconceito: já sabemos de
onde ele saiu e quem o tem reproduzido. A terceira exigência para descortinar
um preconceito é uma abertura para ouvir relatos divergentes, de modo que estaremos,
assim, completando o círculo virtuoso da compreensão, como tão bem Gadamer nos
ensinou.
A Escola Superior de Guerra,
situada no Rio de Janeiro, foi palco de um debate sobre segurança pública no
último dia 7 de março. O painel foi composto por uma antropóloga, um desembargador,
um professor de Direito e um General do Exército. O tema proposto para o debate
foi o da “Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro: Intervenção Federal e
Forças Armadas”. O General da reserva Augusto Heleno fez ponderações muito importantes
que podem auxiliar na releitura da natureza das Forças Armadas brasileiras.
Disse o General:
“Impressionante o preconceito que continua a existir,
preconceito incentivado e alimentado contra os militares. Preconceito que não
tem a menor razão de ser. Depois do Regime Militar, que acabou em 1985, as FFAA
têm sido o baluarte da democracia no Brasil. Sem nenhum arranhão ao regime
democrático, ao contrário, talvez sejam, das instituições, as que mais
respeitam a fundo o regime democrático. O País luta contra todos os
preconceitos, menos contra esse. Este é o único que acham muito bem-vindo e
maravilho – o preconceito contra o militar. Deixam de aproveitar militares
altamente preparados. Nós estudamos a vida inteira e somos mal aproveitados por
causa dessa bobagem de achar que vamos fazer uma revolução, vamos derrubar o
governo. Não existe essa preocupação, eu posso garantir, e já falei isso
publicamente para a população brasileira. As gerações de militares que foram
sim formados por aqueles que garantiram que o Brasil não virasse um país
comunista, esses nos passaram a responsabilidade de nem pensar nisso, não passa
na nossa cabeça uma intervenção militar. Não é apropriado, não é oportuno, é
uma coisa extemporânea que só prejudicaria o País - tem de tirar isso da cabeça da população
brasileira. Esse é o papel da imprensa, parar de achar que o militar sai de
capacete de aço, arma e colete para derrubar alguém. Não é essa a nossa cabeça
hoje. Não tem isso na cabeça dos novos militares, tirem isso da cabeça.
Aproveitem essa Instituição que é um padrão de comportamento, de anticorrupção
e parem com essa bobagem (...) O próprio Ministro Jungmann tem dito que esteve
à frente de outras pastas do governo onde passava o dia inteiro atendendo gente
pedindo (...) – ele passou dois anos no cargo de Ministro da Defesa e nunca recebeu
um pedido para promover algum oficial ou para colocar alguém em algum lugar.
Esta é a Instituição que mais preza pela meritocracia no Brasil. Então essa é
uma injustiça tremenda. Essa situação da intervenção, o fato do interventor ser
militar tem a ver com a situação grave que o Rio de Janeiro enfrenta. Vocês
podem até baixar um aplicativo, o OTT (Onde Tem Tiroteio), é uma vergonha uma
cidade ter um aplicativo desses. Não tenho dúvida que há um grave
comprometimento da ordem pública no RJ. O carioca está deixando de jantar fora,
o carioca só sai pra trabalhar porque se não for vai perder o emprego.”
Das palavras do General Heleno,
pode-se depreender que uma intervenção militar no Brasil antecipar-se-ia
exclusivamente mediante gravíssima ameaça à defesa da Pátria, à lei e da ordem
e à garantia dos poderes constitucionais. Dito isso, perde todo o sentido
qualquer discurso que tenta capciosamente fazer uma ligação entre as FFAA
brasileiras com governos ditatoriais. Diante disso, mesmo que remotamente houvesse
a inevitabilidade de compor um governo militar provisório, por causa do grave
contexto de desordem social, pensar numa ditadura militar no Brasil é
surreal.
Todavia, o ex-ministro da
Defesa, o comunista Raul Jungmann, em entrevista ao Uol notícias, esclareceu
muito bem o fato de as nossas Forças Armadas “cumprirem funções extra centrais –
é difícil encontrar outras Forças Armadas que cumpram tantas funções”, disse
ele. Na mesma entrevista, em 01.01.2018, ele explicita a sua opinião contrária
à intervenção militar – para ele, o Exército não deveria ocupar permanentemente
nenhuma área, mas atuar em parceria com as polícias e o judiciário. Um mês e meio
depois pediu arrego às Forças Armadas.
Embora o Exército seja
reclamado a exercer funções que não são as suas – desde vacinar populações até
fazer segurança urbana, os recrutas hoje não têm alimentação suficiente nem
adequada ao esforço físico que desenvolvem dentro e fora dos quarteis. Só isso
já seria motivo mais do que suficiente para ruborizar a face, para não dizer a
cara de pau, dos nossos congressistas, e do nosso “mui legítimo” presidente,
que se fartam diuturnamente com manjares à custa dos recursos públicos.
Sucatear as FFAA e a Segurança
Pública fez parte da estratégia de tomada de poder dos comunistas. Fomentar a
criminalidade também. Os criminosos de hoje são a força revolucionária de ontem
– a massa trabalhadora foi substituída pela massa carcerária. Observem as
pautas progressistas: mundo sem grades; desarmamento da população, apartheid
social e fomento aos grupos altamente intolerantes, extinção das polícias, e a criação
da Guarda Nacional Permanente, essa última, uma pérola do agora Ministro da
Segurança Pública, Raul Jungmann.
Enquanto que nos Estados
Unidos o Congresso aprovou por unanimidade recursos no valor de US$ 700 bilhões
para gastos militares no ano de 2018, no Brasil estão previstos para o Ministério
da Defesa um orçamento pigmeu na ordem de R$ 100 bilhões (de reais, não de
dólares). Ademais, o orçamento minguado pelo teto dos gastos públicos aliado ao
estado de necessidades não atendidas acumuladas por anos, denota o desrespeito
com os nossos soldados, reconhecidos internacionalmente. Nosso Exército
corresponde a um terço do efetivo americano, mas amarga com um orçamento 20
vezes menor.
As Forças Armadas são
patrimônio do povo brasileiro. O mesmo pode-se afirmar das nossas valorosas
polícias estaduais. A defesa externa e interna de uma nação não pode ser
negligenciada irresponsavelmente como tem sido pelos sucessivos governos de
esquerda que vêm se revezando no poder desde 1985. Desmontar as estruturas de
Defesa e de Segurança do Brasil foi uma armadilha ardilosamente pensada pelos
dissidentes guerrilheiros das décadas de 60 e 70, disfarçados de políticos,
acobertados pelos seus fiéis asseclas, sob tutela oculta de grupos estrangeiros
milionários mal-intencionados. Dito isso, cabe à sociedade brasileira
despojar-se deste preconceito “jaboticaba”, espertamente inventado por esses
que hoje, sabidamente, destruíram o nosso País, e restaurar os laços de
respeito, admiração, confiança e reconhecimento com as nossas Forças Armadas.