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quarta-feira, 14 de março de 2018

Preconceito “Jaboticaba”



A Jaboticabeira é uma árvore frutífera brasileira nativa da Mata Atlântica. Encontramos o fruto jaboticaba facilmente de norte a sul do nosso País. Talvez por isso o termo “jaboticaba” tenha adquirido o sentido figurado de algo ordinário e que só encontramos aqui no Brasil. Eu escolhi a expressão “jaboticaba brasileira” para designar o preconceito vulgar que foi ideologicamente construído em torno dos militares brasileiros. Qual grande nação nutre hoje sentimentos preconceituosos em relação ao seu exército? Soldados americanos, israelenses e japoneses, por exemplo, são reverenciados pelo povo.

As Forças Armadas são constituídas pelo Exército, Aeronáutica e Marinha. Juntas, elas são responsáveis por assegurar a integridade territorial em qualquer país do mundo. As FFAA brasileiras têm como missão zelar pelo território nacional, defender os interesses e os recursos naturais, industriais e tecnológicos do Brasil, proteger os cidadãos e os bens do País, e garantir a soberania da Nação. As FFAA são, ao mesmo tempo, patrimônio e segurança de um povo que se quer soberano e livre.

Por que, então, criou-se no Brasil um tipo de embirração mal justificada em torno do Exército brasileiro?  

Vamos falar um pouco sobre como se constrói ideologicamente um preconceito.  

O preconceito, por definição, é um julgamento antecipado sobre alguma coisa que ainda não conhecemos em profundidade. Neste sentido, a verdade sobre um fato carece da distância temporal - é um requisito necessário para a confrontação entre o passado e o presente. O filósofo alemão Gadamer (1900-2002) é um especialista no tema. Segundo ele, todo preconceito tem suas raízes fincadas na história e na autoridade, de modo que para compreende-lo é necessário seguir três passos 1) suspender os juízos prévios sobre o fato; 2) questionar o fato –  quem fala sobre o fato e de qual lugar fala; 3) abrir-se a outras narrativas.

O brasileiro que tem hoje menos de 35 anos não viveu sob o governo militar no período 1964-1985. Tudo o que ele sabe sobre essa época foi dito pelo seu professor do ensino médio ou por um docente na faculdade, ou foi apreendido por meio das mídias impressas, televisivas ou virtuais ou ainda dentro de algum diretório acadêmico, movimento social ou político. Também pode ter lido em algum livro de história. É preciso esclarecer, então, que a partir de 1984, com o advento das “diretas já”, os que passam a ocupar os principais espaços políticos, artísticos e acadêmicos são justamente os dissidentes e os simpatizantes dos grupos que lutavam para derrubar o governo militar e implantar um regime de matriz ideológica de esquerda no Brasil – à moda de Cuba e da União Soviética.

A narrativa do “golpe” de 2016 já havia sido bem ensaiada no “golpe” de 1964. Os atores protagonistas são os mesmos e o objetivo, por que possa parecer, também é o mesmo – transformar o Brasil num Estado comunista. Percebamos que em 1964 não houve uma tomada do governo de forma intempestiva como muitos insistem em afirmar. A sociedade brasileira da época observava atentamente o processo de “esquerdização” do País, capitaneado pelo então presidente João Goulart. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que contou com mais de 200 mil pessoas nas ruas de São Paulo, teve um papel decisivo nos rumos do Brasil. Os fatos da participação popular maciça e o abandono do cargo do então presidente do Congresso Nacional raramente são citados quando os comunistas se referem ao “golpe de 64”. Não é de admirar que, ao conseguirem o poder em 1985, assumem posições desfavoráveis explícitas à família cristã, à classe média, às estruturas de segurança pública e de Defesa Nacional.  

Uma matéria da Revista Super Interessante de 2016, cujo título é a “Revolução à brasileira", nomina todos os grupos guerrilheiros que tentaram depor o governo militar e implantar, pasmem, uma ditadura socialista. Esses grupos praticavam atentados terroristas, assaltos, sequestros e assassinatos. Eram patrocinados e protegidos por Cuba e pela antiga União Soviética. Nomes hoje venerados pela política e pela academia brasileira, como o da ex-presidenta Dilma Rousseff, integraram a falange.

Em 2016, o Exército foi sondado por políticos de esquerda sobre a hipótese de apoiar a decretação do estado de defesa nos dias que antecederam o impeachment de Dilma. A proposta foi imediatamente rechaçada pelo Comandante do Exército General Villas Bôas. Eles tinham em mente usar as Forças Armadas para “conter as manifestações que ocorriam contra o governo” – revista Veja do dia 24.04.2017. Dito com outras palavras, o governo do PT cogitou usar soldados para cessarem as “panelas”. Mais uma vez o Exército esteve ao lado do povo brasileiro e impediu um golpe comunista.

Sugiro alguns vídeos no YouTube sobre a temática. Destaco especialmente os seguintes: a) o vídeo do ex-deputado federal Fernando Gabeira, ex-guerrilheiro e companheiro de Dilma, José Dirceu e José Genoíno, entrevista na qual ele confirma que o objetivo dos opositores do governo militar era sim o de implantar o comunismo e uma consequente ditadura no Brasil; b) a ditadura militar e a ditadura do proletariado com o ex-petista Eduardo Jorge; c) ex-guerrilheira Vera Silvia Magalhães (companheira de Dilma Rousseff); d) Padre Paulo Ricardo e ditadura militar combateu guerrilha e ajudou marxismo cultural. Este último vídeo elucida o feito das universidades federais brasileiras terem se tornado as porta-vozes do comunismo no Brasil. Embora raras de encontrar, as publicações de autores com viés ideológico não marxista são leituras importantes para a compreensão desta mal contada fase da história brasileira.

Muito bem, até aqui já cumprimos duas das exigências para romper com um preconceito: já sabemos de onde ele saiu e quem o tem reproduzido. A terceira exigência para descortinar um preconceito é uma abertura para ouvir relatos divergentes, de modo que estaremos, assim, completando o círculo virtuoso da compreensão, como tão bem Gadamer nos ensinou.

A Escola Superior de Guerra, situada no Rio de Janeiro, foi palco de um debate sobre segurança pública no último dia 7 de março. O painel foi composto por uma antropóloga, um desembargador, um professor de Direito e um General do Exército. O tema proposto para o debate foi o da “Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro: Intervenção Federal e Forças Armadas”. O General da reserva Augusto Heleno fez ponderações muito importantes que podem auxiliar na releitura da natureza das Forças Armadas brasileiras. Disse o General:

Impressionante o preconceito que continua a existir, preconceito incentivado e alimentado contra os militares. Preconceito que não tem a menor razão de ser. Depois do Regime Militar, que acabou em 1985, as FFAA têm sido o baluarte da democracia no Brasil. Sem nenhum arranhão ao regime democrático, ao contrário, talvez sejam, das instituições, as que mais respeitam a fundo o regime democrático. O País luta contra todos os preconceitos, menos contra esse. Este é o único que acham muito bem-vindo e maravilho – o preconceito contra o militar. Deixam de aproveitar militares altamente preparados. Nós estudamos a vida inteira e somos mal aproveitados por causa dessa bobagem de achar que vamos fazer uma revolução, vamos derrubar o governo. Não existe essa preocupação, eu posso garantir, e já falei isso publicamente para a população brasileira. As gerações de militares que foram sim formados por aqueles que garantiram que o Brasil não virasse um país comunista, esses nos passaram a responsabilidade de nem pensar nisso, não passa na nossa cabeça uma intervenção militar. Não é apropriado, não é oportuno, é uma coisa extemporânea que só prejudicaria o País -  tem de tirar isso da cabeça da população brasileira. Esse é o papel da imprensa, parar de achar que o militar sai de capacete de aço, arma e colete para derrubar alguém. Não é essa a nossa cabeça hoje. Não tem isso na cabeça dos novos militares, tirem isso da cabeça. Aproveitem essa Instituição que é um padrão de comportamento, de anticorrupção e parem com essa bobagem (...) O próprio Ministro Jungmann tem dito que esteve à frente de outras pastas do governo onde passava o dia inteiro atendendo gente pedindo (...) – ele passou dois anos no cargo de Ministro da Defesa e nunca recebeu um pedido para promover algum oficial ou para colocar alguém em algum lugar. Esta é a Instituição que mais preza pela meritocracia no Brasil. Então essa é uma injustiça tremenda. Essa situação da intervenção, o fato do interventor ser militar tem a ver com a situação grave que o Rio de Janeiro enfrenta. Vocês podem até baixar um aplicativo, o OTT (Onde Tem Tiroteio), é uma vergonha uma cidade ter um aplicativo desses. Não tenho dúvida que há um grave comprometimento da ordem pública no RJ. O carioca está deixando de jantar fora, o carioca só sai pra trabalhar porque se não for vai perder o emprego.”

Das palavras do General Heleno, pode-se depreender que uma intervenção militar no Brasil antecipar-se-ia exclusivamente mediante gravíssima ameaça à defesa da Pátria, à lei e da ordem e à garantia dos poderes constitucionais. Dito isso, perde todo o sentido qualquer discurso que tenta capciosamente fazer uma ligação entre as FFAA brasileiras com governos ditatoriais. Diante disso, mesmo que remotamente houvesse a inevitabilidade de compor um governo militar provisório, por causa do grave contexto de desordem social, pensar numa ditadura militar no Brasil é surreal. 

Todavia, o ex-ministro da Defesa, o comunista Raul Jungmann, em entrevista ao Uol notícias, esclareceu muito bem o fato de as nossas Forças Armadas “cumprirem funções extra centrais – é difícil encontrar outras Forças Armadas que cumpram tantas funções”, disse ele. Na mesma entrevista, em 01.01.2018, ele explicita a sua opinião contrária à intervenção militar – para ele, o Exército não deveria ocupar permanentemente nenhuma área, mas atuar em parceria com as polícias e o judiciário. Um mês e meio depois pediu arrego às Forças Armadas.

Embora o Exército seja reclamado a exercer funções que não são as suas – desde vacinar populações até fazer segurança urbana, os recrutas hoje não têm alimentação suficiente nem adequada ao esforço físico que desenvolvem dentro e fora dos quarteis. Só isso já seria motivo mais do que suficiente para ruborizar a face, para não dizer a cara de pau, dos nossos congressistas, e do nosso “mui legítimo” presidente, que se fartam diuturnamente com manjares à custa dos recursos públicos.

Sucatear as FFAA e a Segurança Pública fez parte da estratégia de tomada de poder dos comunistas. Fomentar a criminalidade também. Os criminosos de hoje são a força revolucionária de ontem – a massa trabalhadora foi substituída pela massa carcerária. Observem as pautas progressistas: mundo sem grades; desarmamento da população, apartheid social e fomento aos grupos altamente intolerantes, extinção das polícias, e a criação da Guarda Nacional Permanente, essa última, uma pérola do agora Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.

Enquanto que nos Estados Unidos o Congresso aprovou por unanimidade recursos no valor de US$ 700 bilhões para gastos militares no ano de 2018, no Brasil estão previstos para o Ministério da Defesa um orçamento pigmeu na ordem de R$ 100 bilhões (de reais, não de dólares). Ademais, o orçamento minguado pelo teto dos gastos públicos aliado ao estado de necessidades não atendidas acumuladas por anos, denota o desrespeito com os nossos soldados, reconhecidos internacionalmente. Nosso Exército corresponde a um terço do efetivo americano, mas amarga com um orçamento 20 vezes menor.

As Forças Armadas são patrimônio do povo brasileiro. O mesmo pode-se afirmar das nossas valorosas polícias estaduais. A defesa externa e interna de uma nação não pode ser negligenciada irresponsavelmente como tem sido pelos sucessivos governos de esquerda que vêm se revezando no poder desde 1985. Desmontar as estruturas de Defesa e de Segurança do Brasil foi uma armadilha ardilosamente pensada pelos dissidentes guerrilheiros das décadas de 60 e 70, disfarçados de políticos, acobertados pelos seus fiéis asseclas, sob tutela oculta de grupos estrangeiros milionários mal-intencionados. Dito isso, cabe à sociedade brasileira despojar-se deste preconceito “jaboticaba”, espertamente inventado por esses que hoje, sabidamente, destruíram o nosso País, e restaurar os laços de respeito, admiração, confiança e reconhecimento com as nossas Forças Armadas.