Socialismo e capitalismo são, em
tese, sistemas distintos de organização social. Discorrer sobre as estruturas
econômicas e institucionais que os sustentam não é conteúdo deste pequeno texto.
Todavia, cabe um comentário a título de reflexão diante da polarização
político-ideológica que toma conta diuturnamente das redes sociais. Tais
embates estão mais ligados a causas do "ethos" do que propriamente do
"logos". Refiro-me aos "Fora Temer" e aos "Tchau
Querida". Não dá para levar a sério - é defender o indefensável. Qual
brasileiro poderia ser favorável à distribuição privativa dos bens e dos
recursos públicos? O povo respondeu nas urnas. Por outro lado, penso que de
forma alguma é possível creditar ao Partido dos Trabalhadores, o todo, a conduta
desonrosa de um grupo de "partidários- larápios". Sem dúvida,
o legado do governo petista vai demandar do partido uma conduta de sobrelevação
e de reavaliação dos seus pressupostos ideológicos, a fim de uma refundação. É
cedo para uma diagnose sobre o espaço e o papel que a esquerda brasileira vai
ocupar e desempenhar respectivamente no cenário político brasileiro. Na
democracia que todos queremos é necessário o contradito para limitar anseios
extremistas. Particularmente, acredito que o PSOL talvez tenha condições para conglutinar
as esquerdas no Brasil. Todavia, para lograr êxito, indubitavelmente
terá de reatualizar o seu discurso. É improvável que pessoas do século XXI
compreendam uma narrativa própria do século XIX.
De acordo com Axel Honneth -
diretor do Instituto para a Pesquisa Social da Universidade Wolfgang Johann Goethe, em Frankfurt am Main
- em que pese o fracasso dos governos socialistas no século XX, uma
reatualização da velha escola preservará a sua existência. O autor foi
escolhido em 2015, por voto unânime do júri, para receber o prêmio "Ernst Bloch",
um dos mais destacados prêmios culturais na Alemanha e na Europa.
O prestígio de Honneth está ligado a sua trajetória acadêmica e a sua obra no
bojo da Teoria Crítica. Os jurados usaram como argumento a contribuição
dos estudos de Honneth para a reinterpretação da realidade social do nosso
tempo. A mais recente obra do autor, lançada em 2015 na Alemanha, e em 2016 em
versão inglesa - A ideia de Socialismo - busca atualizar a orientação normativa
e histórica do socialismo, que, segundo Honneth, perdeu a vitalidade na
sociedade contemporânea. No livro, ele explica o porquê da obsolescência das ideias da esquerda em apenas 150 anos, e o que será necessário para salvá-las. Em
síntese, Honneth destaca que os pressupostos teóricos do socialismo,
fundamentados no trabalho da era industrial, não são convincentes para o nosso
século. As pistas deste debate, a meu ver, são os conceitos de solidariedade e
liberdade social em contrapartida ao do egoísmo coletivo. O autor sinaliza como um
dos erros do socialismo clássico a compreensão dos processos de diferenciação
social apenas sob o prisma econômico. Dito de outra forma, a ideia passa
pela construção de uma sociedade baseada no reconhecimento mútuo (na estima
social) em consonância com as necessidades individuais. Haja vista essas
considerações, é possível inferir que a narrativa do "nós e eles" não prospera por longo tempo em sociedades democráticas contemporâneas. O livro na tradução
inglesa está disponível na Amazon.
* Os estudos de Axel Honneth foram desprezados pela esquerda nacional, preferindo ela se associar ao progressismo globalista predador. Encontra-se em plena decadência.
* Os estudos de Axel Honneth foram desprezados pela esquerda nacional, preferindo ela se associar ao progressismo globalista predador. Encontra-se em plena decadência.
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