Goethes Erbe für das 21.
Jahrhundert – A herança de Goethe para o século XXI
Este texto trata da não
desproposital exposição “artística” promovida pelo Goethe-Institut de Porto
Alegre. Intitulada de Pixo/Grafite: Realidades Paralelas, contou com a participação
do pichador Rafael Pixobomb e do grafiteiro Amaro Abreu, sob curadoria de
Laymert Garcia dos Santos. O acesso ao público teve início em 22 de março, sem
data de encerramento - na sede do Instituto localizada no requintado bairro Moinhos
de Vento, na capital dos gaúchos. A mostra
das obras “artísticas”, expostas no espaço interno do Instituto há mais de um
mês, não alcançou grande repercussão nas mídias do sul. No entanto, no fim do
período da exposição, os cidadãos porto alegrenses tiveram a ingrata surpresa de,
ao transitarem numa das ruas mais movimentadas de Porto Alegre, se depararem
com a cabeça de Jesus Cristo decapitada e servida numa bandeja estampada no
muro externo do Goethe-Institut.
Na medida em que as pessoas foram
tomando conhecimento do feito, quer passando na frente do Goethe-Institut ou
pela internet, a indignação diante de tamanha afronta ao sagrado cristão produziu
inúmeros comentários nas redes sociais, em especial na página do facebook da Instituição. É compreensível que os comentários tenham sido contundentes, porém
nada próximo do que maliciosamente quis a administração aparentar através de um
vitimismo pueril, mas absolutamente
hipócrita. Transcrevo um trecho do comunicado veiculado na página do Instituto,
dia 27 de abril:
“O Goethe-Institut Porto Alegre tem recebido nos últimos
dias mensagens de ódio referentes ao projeto “Pixo/Grafite – realidades
paralelas”, projeto realizado para discutir modalidades de street art. Em
nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos
religiosos. Respeitamos todas as crenças, manifestações e liberdade de
expressão. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90
países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta a discussão,
participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que
incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão. Continuaremos com nossos
esforços de incentivo à discussão e ao intercâmbio entre culturas, visões
artísticas e diferentes formas do pensar”. (...)
O sociólogo alemão Max
Weber muito bem explica que toda ação social se fundamenta conforme a
expectativa do agente. Dito de outra forma, quando alguém toma uma atitude,
toma em razão de alguma expectativa, o acaso inexiste tratando-se de ações
sociais. Valho-me da premissa weberiana e questiono: qual ou quais razões teria
a administração do Goethe-Institut em afrontar tão intoleravelmente a sociedade
cristã de Porto Alegre? Sabidamente, é grande a comunidade luterana germânica
no Sul do Brasil. Para além, os grupos cristãos católicos, evangélicos e
espíritas não são merecedores de respeito por parte dessa Instituição?
Representar o Cristo decapitado – sabe-se que a prática da decapitação é
lei do Islã para quem não reconhece Maomé como único Deus – é respeitar todas
as religiões? Ou o Goethe Institut “tirou” os gaúchos para idiotas?
Para além de ser um comunicado
fútil e desrespeitoso, também é ardiloso. Segundo a Instituição “em nenhum momento
foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos religiosos,
respeitamos todas as crenças”. Mentira, não respeitam. Quem respeita crenças
religiosas não permite de forma deliberada o vilipêndio dissimulado de “arte”
produzida por um pichador reconhecidamente admirador, para dizer o mínimo, do
satanismo. Há menos de um ano a comunidade porto-alegrense já havia se
manifestado contra a exposição “Queermuseu", por tratar-se de um taque
frontal aos símbolos da fé cristã, cujo desfecho foi o encerramento da mostra. O
Goethe-Intitut poderia ter sido bem mais criativo e menos explícito na sua real
intenção de agredir ao Deus dos cristãos. Por que não as cabeças de Maomé ou
Iemanjá decapitadas numa bandeja? Ou a cabeça de Angela Merkel, que sem pudor
algum tem transformado a Alemanha num hospício e a vida dos alemães num
inferno? com a “política” de fronteiras abertas. Mais criativo ainda seria a
cabeça cortada do diretor do Goethe-Institut- Es wäre wirklich ein Kunstwerk
sein. Ou ainda – por que não ofereceu aos “artistas” o lado interno do muro
para que realizassem livremente sua “despretensiosa” obra?
O comunicado do Goethe-Institut é
uma lorota para gringo ler. O Centro Cultural, ao organizar a exposição e
convidar deliberadamente tais participantes, sabia muito bem a quem atingiria e
a quem agradaria. Vejamos quem são os protagonistas da “Exposição” Pixo/Grafite
– Realidades Paralelas, no Goethe-Institut de Porto Alegre.
Rafael Augustaitz, ou
Pixobomb, (ninguém sabe ao certo o nome verdadeiro dele) é considerado o
mentor da série de invasões de 2008 na Faculdade de Belas Artes, na Galeria
Choque Cultural e na Bienal de São Paulo. As pichações renderam ao “artista” boletins
policiais e fama nacional. É autor do “poema terrorista” quando ainda estudava
no Centro Universitário de Belas Artes, em São Paulo. O pesquisador Gustavo
Coelho estudou a produção de Augustaitiz e, segundo ele, as pichações são produções
juvenis e indisciplinadas que não atentam sobre a diferença entre estética e
crime. Segundo o estudioso - "A
Semana de Arte Moderna foi polêmica, mas uma polêmica nada suja, uma polêmica
bem civilizada e higienizada. A polêmica estava nas obras e nos artistas
convidados. Nada foi invadido, tudo o que aconteceu estava basicamente no
programa, eram polêmicas aguardadas, planejadas. Em suma, mesmo sendo
polêmicas, estas estavam amparadas pelo certame da Arte com “a” maiúsculo”. (vivaapixacao.blogspot.com.br)
O “artista” é autor de obras como
– O Cristo Redentor de cabeça para baixo e Manto Duplicado de Nossa Senhora com
um Pentagrama invertido no meio (o pentagrama invertido é um símbolo de seitas
satânicas e da magia negra).
Entrevistado pelo site <becidecolor.com> o
pichador assim se definiu “Pinto como Rafael e picho como PiXobomb, um Grego
Augustaitiz, não só em Grego, Opus 666, O Anticristo. As demais respostas às
perguntas do site são tão ou mais chocantes e esquizofrênicas quanto foi a sua autodefinição.
O site pergunta se ele tem noção das polêmicas que produz e se tem arrependimento de algo – Pixobomb
respondeu – “Eu sou Lúcifer”.
Amaro Abreu – Segundo a Revista O Viés, o grafiteiro tem 26 anos e
cursa Artes Visuais na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Porto Alegre.
Sua arte, exercida há 10 anos, apresenta críticas sociais misturando cores,
seres inanimados e extra- terrestres. Segundo o grafiteiro, ele desenha um
universo paralelo - “percebi também que
estava passando os valores que eu achava que estavam se perdendo com a evolução
do ser humano. Os valores relacionados com a convivência harmônica com a
natureza e os outros seres que vivem no mesmo habitat. Sempre tento acrescentar
situações novas em cada pintura, relata o artista, criando um planeta distante,
com vida emocional e biológica e cheia de possibilidades”. Há quatro anos realiza oficinas com crianças porto-alegrenses – para ele, os desenhos
despertam interesses nos pequenos, o que pode separá-los futuramente das drogas
e da violência”.
Laymert Garcia dos Santos - o curador da exposição no Goethe-Institut é
professor titular do departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual
de Campinas, é conselheiro do CNPq, a maior agência pública de fomento de
pesquisas do Brasil e Diretor da Fundação Bienal de São Paulo, é também assessor
do Ministério da Cultura. No seu
currículo lattes (currículo oficial obrigatório para pesquisadores brasileiros)
consta que é bacharel em comunicação social (UFRJ), é mestre em Sociologie des
Sociétés Industrielles - École des Hautes Études en Sciences Sociales e possui doutorado
em Sciences de l'Information - Universite de Paris VII - Universite Denis
Diderot. Realizou três pós-doutoramentos com financiamento público de agências
brasileiras (um na Inglaterra e dois na França). Atualmente é coordenador do
Laboratório de Cultura e Tecnologia em Rede, Instituto Século 21, em São Paulo.
É autor do artigo científico “Sobre o futuro do humano. Nada” e do livro Alienação
e Capitalismo.
O professor Laymert possui um site < www.laymert.com.br), onde se pode encontrar
inúmeros artigos de sua autoria sobre questões relacionadas à política, à arte
e ao ensino no Brasil. Recomendo a leitura do artigo sob título “O fim da Universidade”
(2000) – no qual o eminente professor escreveu “o desmantelamento das
universidades públicas parece inexorável”. Outro texto que recomendo é o “Não
acho que o fascismo vai vir, ele já está aqui” (2016), no qual ele ataca às
autoridades judiciais brasileiras e se mostra um intolerante audaz ao escrever
“a gente já passou da fase de tentar negociar. Eles não negociam nada, não tem
o que negociar (se refere ao impeachment de Dilma Rousseff e aos que o
apoiavam)”.
Para finalizar, vamos falar sobre
Johann Wolfgang von Goethe, quem empresta o nome ao Instituto Cultural alemão
mais conhecido fora da Alemanha – quem foi ele? Sem dúvida o maior expoente da
literatura alemã. Viveu entre 1749 e 1832. Vale visitar as duas residências,
hoje museus, onde Goethe escreveu grande parte das suas obras – uma em
Frankfurt am main, onde nasceu e outra em Weimar, onde morreu. Quem tem uma
imagem de Goethe como homem ensimesmado, reflexivo e recolhido aos aposentos
desalumiados do século XVIII donde parturejava suas obras – enganou-se. Nada
disso. Herdeiro de uma família abastada, o típico burguês jamais necessitou de
recursos advindos do seu trabalho para viver. Fato esse que explica em parte a
fase rebelde e boêmia da sua juventude. Formado em Direito, nunca se interessou
em seguir carreira jurídica como a do seu pai. Gostava da literatura, das artes
e de frequentar a nobreza. Chegou a viver na Itália por um curto período de
tempo quando produziu algumas obras importantes como as Elegias Romanas. Autor
de Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), escrito em apenas quatro semanas e
considerada uma obra prima da literatura mundial. Foi inspirada no amor
“proibido” que Goethe nutria pela noiva de um amigo. Esse seu primeiro romance o
levou a patamares de celebridade no mundo europeu da literatura com apenas 23
anos de idade. Porém, estranhamente foi logo proibido em vários países europeus
porque provocou uma onda (welle) de suicídios em todo o continente europeu –
jovens eram encontrados mortos, vestidos tal como o jovem Werther e com
exemplares do livro nos bolsos – esse
episódio ficou conhecido como “as vítimas de Werther”. A obra foi acusada de
incitação ao suicídio e ameaça aos bons costumes da sociedade.
Bem mais tarde, lançou um livro
de poesias intrigante - o Divã oriental-ocidental (West-östlicher Divan, 1819).
Uma obra com grande apelo ao imaginário muçulmano. Apesar de uma educação clássica e burguesa
ocidental, e de fato nunca ter chegado próximo de um país oriental, nesta obra
fez uma verdadeira exaltação ao islamismo. Para Goethe, o povo árabe é honrado,
respeitador das tradições, é ávido por guerra, vingativo e irascível, porém
esses atributos lhe confere um perfeito espírito guerreiro e vencedor. É expressiva
a recepção de o Divã nos países orientais. Enquanto há apenas duas traduções da
obra fora da Alemanha (francesa e inglesa), por outro lado foi traduzido para o
persa, árabe, turco, azerbaijano, japonês, mandarim, entre outras línguas orientais. É
uma obra de fato anticristã.
Mas de todas as excentricidades
de Goethe, a mais curiosa para mim foi ter encontrado uma referência da sua
participação como fundador da Seita Illuminati. No dia 1º de maio de 1776, o
professor de direito Adam Weishaupt, da Universidade de Ingolstadt, Baviera,
sul da Alemanha, acompanhado por Goethe e mais alguns membros da elite alemã
fundaram a sociedade secreta dos Illuminati, cujo objetivo fora o de discutir e
promover os dogmas do iluminismo. Weishaupt
esperava que por meio dos frequentes encontros dos “magnânimos intelectuais”
seria possível influenciar poderes políticos e econômicos e extinguir a
“irracional” crença cristã além de criar uma nova ordem mundial através de um governo
global. Segundo a história oficial, Karl
Theodor, duque da Bavária, baixou um decreto em 1785 que extinguiu a sociedade
Illuminati. Todavia, alguns creem que a sociedade secreta dos "Iluminados" continua viva até hoje e seu principal objetivo, o de estabelecer um governo
global anticristão, estaria em curso adiantado.
Neste breve alinhavo dos fatos com os atores envolvidos nesta “mostra artística” vislumbra-se uma ténue, mas
elementar indicação do conjunto de princípios, concepções e ideias que estão
presentes na visão de mundo da Instituição que tem por insígnia a alcunha
Goethe. Valores estes que seguramente estão por de trás dos seus idealizadores. Retomando o conceito de ação social de Max
Weber, toda ação praticada socialmente tem uma intenção orientada para outrem e
cabe ao cidadão consciente e político encontrar o elo causal entre elas para
não se deixar enganar.
https://www.focus.de/wissen/mensch/beweis-gefunden_aid_101612.html
http://www.dieterwunderlich.de/Johann_Wolfgang_Goethe.htm